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18/05/2017 08h45
Temer incentivou compra de silêncio de Cunha e Funaro, diz jornal
Presidente teria sido gravado com Joesley Batista “FriboiGate” abala Brasília e esvazia o Congresso
Os donos do grupo JBS gravaram o presidente Michel Temer concordando com a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba por ordem da operação Lava Jato.
Conforme o jornal O Globo, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver 1 assunto da JBS. Em seguida, Rocha Loures teria sido filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil em dinheiro enviada por Joesley Batista, dono do grupo JBS. Toda a operação foi acompanhada pela Justiça e pela Polícia Federal, que filmou a entrega dos valores.
Segundo o jornal, o empresário Joesley Batista gravou uma conversa com o presidente da República. Nesse diálogo, o executivo relatava os pagamentos a Cunha e também a Lúcio Funaro, 1 conhecido operador do mercado. Ambos estão presos. O dinheiro de Joesley seria para mantê-los em silêncio. Temer teria dito em seguida: “Tem que manter isso, viu?”.
O presidente nega ter existido o diálogo. Leia aqui a versão do peemedebista.
De acordo com a reportagem de O Globo, as informações são originadas de 1 acordo de colaboração de Joesley Batista e de seu irmão Wesley com a Justiça. O caso começou a ser chamado de “FriboiGate”, em alusão à marca de carnes mais famosa da JBS.
OUTRAS REVELAÇÕES
Em sua reportagem, o jornal O Globo ainda fez revelações sobre outros personagens da política brasileira:
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O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também teria sido gravado “pedindo R$ 2 milhões a Joesley”, diz O Globo. De acordo com a reportagem, o dinheiro foi “entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella [grifo do Poder360] (PSDB-MG)”. Neste link estão as versões de Aécio e Perrella, assim como a de Rocha Loures e a de Michel Temer.
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Ainda de acordo com relato de O Globo, Joesley teria relatado também que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi o seu contato com o PT. “Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados”, descreve o jornal, ao relatar a delação dos irmãos Batistas.
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Além da mesada, Joesley teria dito à Justiça que o ex-deputado Eduardo Cunha recebeu R$ 5 milhões após sua prisão. Seria 1 saldo de propinas. Também afirmou dever R$ 20 milhões ao político pela lei sobre desoneração do setor de carne de frango.
DETALHES RELEVANTES
Um detalhe em particular apavorou políticos em Brasília, além das gravações: o dinheiro entregue a mando de Joesley e de Wesley era todo rastreável. As cédulas tiveram seus números de série anotados e repassados aos procuradores que acompanham o caso. Por fim, as malas ou mochilas estavam com chips, de maneira a permitir que fosse possível rastrear o caminho dessas valises.
Outro aspecto relevante: a operação toda se deu de março de 2017 para cá. Ou seja, durante o mandato do presidente Michel Temer. Tratam-se de fatos ocorridos já no mandato do peemedebista e ele pode ser responsabilizado criminalmente caso tudo fique comprovado. Os dados disponíveis até agora indicam que a Justiça acompanhou e registrou a distribuição de aproximadamente R$ 3 milhões em propinas marcadas durante o mês de abril.
A DELAÇÃO E A PGR
Diferentemente das delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht, negociadas durante meses, a da JBS foi resolvida em semanas. As conversas teriam começado em março, os depoimentos em abril e na primeira semana de maio tudo já estaria terminado. Até o negociador das delações, Francisco Assis e Silva, diretor jurídico da JBS, teria se tornado 1 delator. O processo foi acelerado devido à força do que os delatores tinham a dizer.
A PGR (Procuradoria Geral da República) adotou 1 procedimento incomum para evitar o vazamento das conversas, afirma O Globo. Joesley Batista entrava na sede do órgão discretamente, pela garagem, dirigindo o próprio carro. Subia para prestar depoimento sem ser identificado no caminho. Com outros delatores -de acordo com O Globo, são 7-, teria o processo teria se dado da mesma forma. Eles estariam livres de prisão ou tornozeleira, e pagariam multa de R$ 225 milhões para ficarem livres das operações Lava Jato e Greenfield.
O jornal ainda afirma que a JBS tenta 1 acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A empresa tem 56 fábricas no país. Também precisaria abrir seu capital na bolsa de Nova York.