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05/01/2012 18h47 - Atualizado em 05/01/2012 18h54

Patrimônio histórico cultural - qual o valor da nossa história?

Luciane Miranda Luciane Miranda
Artista Plástica, Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Santa Rosa.

Percebe-se nas últimas décadas, quem sabe resultado da globalização, uma tendência a padronização do mundo, uniformização de valores econômicos como prioridade da sociedade e a visão de que o antigo deve ser substituído pelo moderno e que este consequentemente possui maior identificação com a contemporaneidade, vitimando as cidades com a ausência física de edificações que carregam parte da história e memória de tudo aquilo que construímos para chegar onde estamos, desconsiderando e desprezando a vivência e o esforço de muitos que em outros tempos ali estiveram.
Em Santa Rosa a situação não é diferente.
No dia 03 de janeiro de 2012, mais uma parte da nossa história ruiu. Foi a casa onde durante muitos anos funcionou o primeiro comércio local, datada da década de 1916, pertenceu ao comerciante Apolônio Zorzan e posteriormente à família Zeni. Estava situada à Avenida Borges de Medeiros, nas imediações da Praça Independência, local conhecido como Cidade Baixa, onde foram abertas as primeiras picadas em meio a mata que cobria a então “Colônia 14 de Julho”. Era nesta casa que os viajantes encontravam parada e os colonos descanso, onde aconteciam as articulações políticas e reuniões.
A Cidade Baixa, ponto de referência para antigos habitantes e para a própria história de Santa Rosa, ao invés de ser tombada e caracterizada como um dos Centros Históricos da cidade, inclusive tendo potencial para fomentar o turismo e consequentemente a economia local, tem sofrido ao longo dos anos a total descaracterização. Prédios novos sem nenhuma comunicação com o local, fachadas antigas cobertas por logotipos de empresas, arquitetura modificada das formas mais improváveis e absurdas possíveis, tudo contribuindo com a destruição da memória histórica e afetiva da comunidade.
Sabe-se da complexidade que envolve tal assunto, do direito de propriedade à construção de um plano diretor que viabilize incentivos fiscais para os proprietários de prédios tombados, da boa vontade política à  criação da sensação de pertencimento que deve ser propiciada aos indivíduos ainda em sala de aula, da simples catalogação à construção de um plano municipal do turismo que compreenda as inúmeras possibilidades e necessidades de desenvolvimento do setor.
Porém, não podemos permanecer estáticos às burocracias e vontades, atitudes precisam ser tomadas inclusive tendo como argumento o fato de que a preservação do Patrimônio Histórico Material e Imaterial está instituído na lei municipal nº 4.612, de 29 de dezembro de 2009 e na Constituição da República Federativa do Brasil, art. 1°, parágrafo único e artigos 215 e 216, e estas precisam ser respeitadas mesmo que para isso as determinações advenham do Ministério Público. Somam-se, segundo levantamento, mais de 30 prédios em risco de desaparecer, entre eles o Clube Concórdia que já teve o primeiro andar de sua edificação vendido, bem como inúmeros imóveis situados nas cercanias da Praça da Bandeira, acrescente-se na lista o prédio do antigo cinema de Cruzeiro, o prédio da Viação Férrea entre tantos outros que poderiam transformar-se em proveitosos centros culturais ou sedes de instituições sociais e secretarias municipais, inclusive desonerando o setor público de gastos com novas edificações.
Santa Rosa possui uma participação muito significativa e singular para a construção da história da região e do Estado do Rio Grande do Sul, não temos o direito de construir “buracos negros e caixas vazias” no lugar onde nossos antepassados plantaram as primeiras sementes dos frutos que hoje colhemos, não podemos simplesmente ignorar nossa responsabilidade e nos tornarmos passivos ao descaso, ao não cumprimento das leis por aqueles que deveriam garanti-las. Não basta usar bombachas, cantar os hinos e se dizer um ser cultural. São as atitudes que nos movem!

 

Patrimônio histórico é derrubado. Patrimônio histórico é derrubado.
Construção era data de 1916. Construção era data de 1916.

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Povo sem história, é um povo sem cultura, desconhecido e sem identidade. Cito aqui a frase dita pelo Imperador Mejii no filme O Último Samurai (2003), "O sonho de unificar o Japão, tornar uma nação forte, independente e moderna, agoa temos, trens, canhões e roupas ocidentais, mas não podemos nos esquecer quem somos, de onde viemos...".

Vladimir Ribas - 10/01/2012 14h31

Usei a foto desta casa na montagem da capa do livro "Santa Rosa - histórias e memórias". Agora sim, virou apenas história.

Otávio - Soluty - 08/01/2012 16h32

Que derrubem tudo... e viva o progresso!!!

Futuro funcionário da CEF - 06/01/2012 13h36

Preciso discordar, Juca Fortes, surtem efeito sim, são duas obras que modificaram minha visão a respeito de Santa Rosa.A questão é que arte, cultura, história...são assuntos que de certa forma restringem-se a quem de alguma forma esta envolvido com ele.O que precisamos é modificar isto, popularizar a cultura, aproximá-la do povo...o caminho é longo

luciane miranda - 06/01/2012 10h53

O que será que irão fazer com toda essa madeira da Colônia 14 de Julho? Como a Luciane Miranda tá bonita na foto! Abração Lu! Tudo de bom... Sempre!

Marco Antônio da Silva - 06/01/2012 10h10

Parece surtir pouco efeito a elaboração de obras como os "Desbravadores de Santa Rosa" de Anderson Farias ou o livro "Santa Rosa: histórias e memórias " da professora Teresa Christensen. Funciona assim: os artistas e historiadores já fizeram sua parte - agora deixa com quem sabe... e põem logo essa casa na "chom".

juca fortes - 06/01/2012 03h55

 

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