Colunas / Saúde
28/06/2011 20h02
Fonoaudiologia e Equoterapia
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Carine Meinerz
Fonoaudióloga CRFa 8838, Especialista em Motricidade Orofacial - CEFAC/RS.
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De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil), a equoterapia “é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interidisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais”.
A equoterapia emprega o cavalo como motivador para proporcionar ao praticante ganhos físicos, psicológicos e educacionais. Esta atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, flexibilidade, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. A interação com o animal, desde os primeiros contatos e cuidados preliminares até a montaria, propicia e desenvolve novas formas de comunicação, socialização, autoconfiança e auto-estima (ANDE-Brasil).
O atendimento na equoterapia é precedido de diagnóstico, indicação médica e avaliações de profissionais das áreas de saúde e educação com o objetivo de planejar o atendimento equoterápico individualizado. A prática da equoterapia é realizada por equipe multiprofissional que atua de forma interdisciplinar (ANDE-Brasil).
O movimento tridimensional que o cavalo produz, sendo semelhante à marcha humana, é um fator determinante para que ele seja fundamental neste recurso terapêutico, pois o cavaleiro recebe um ajuste tônico, que favorece o alinhamento e a consciência corporal, a coordenação motora e a força muscular, alcançando objetivos neuromotores como a melhora do equilíbrio (Medeiros; Dias, 2002).
A equoterapia proporciona resultados muito espontâneos e rápidos, pois nessa terapia podemos usufruir diferentes estímulos em uma só sessão. Em um lado temos o cavalo com o seu papel fundamental e no outro lado, temos o terapeuta, tornando o atendimento de maneira descontraída e sem sobrecarregar o praticante. No momento terapêutico o cavalo também tem o papel de instrumento lúdico, o que mantém a motivação e a adesão ao tratamento do praticante, passando despercebido à criança que estará interessada no momento de diversão com o cavalo (Umphered, 1994).
O cavalo, na equoterapia, também se torna um facilitador para o desenvolvimento da afetividade, autoconfiança, auto-estima, organização do esquema corporal, responsabilidade, atenção, concentração, memória, criatividade, socialização, entre outros. E ao mesmo tempo, tem a função intermediária entre o mundo intrapsíquico do praticante, que contêm desejos, fantasmas, angústias, e o mundo externo, ocupando o espaço lúdico do praticante (Lallery, 1988).
A atuação do fonoaudiólogo dentro do contexto da equoterapia é recente, e tem se tornado mais intensa devido às grandes possibilidades de atuação, estimulação e de novas alternativas de pesquisa a serem exploradas (Keske-Soares, 2005).
O cavalo, podendo ser tocado, escovado, lavado, alimentado, além de montado pelo praticante, fornece vastas possibilidades através de um amplo repertório de atividades, promovendo a motivação pela fala e favorecendo a comunicação não-verbal através de atividades que desenvolvem a linguagem, já que o indivíduo é estimulado a expressar em palavras aquilo que vê no ambiente. Dentro dessa perspectiva, acreditamos que o cavalo é aquele ao qual o praticante dirige seu discurso para dizer ao outro o que ele não consegue diretamente. Assim, os fonoaudiólogospodem se utilizar desse mediador inclusive fornecendo instruções ao próprio cavalo, quando o praticante tende a se inibir com a correção do “erro” (Britton, 1991).
Para Ruschel (2000), na equoterapia a fonoaudiologia pode trabalhar a respiração, voz, controle postural, psicomotricidade, coordenação, adequação de tônus, mastigação, deglutição, estimulação (auditiva, visual e tátil), fala, linguagem, autoconfiança, auto-estima, dentre outros, sempre havendo a atenção de ver o praticante como um todo, possuindo qualidades e potenciais.
É importante referir que o movimento tridimensional do cavalo, semelhante à marcha humana, proporciona estimulações quanto ao desenvolvimento da linguagem e fala, já que os sistemas de vigília são ativados e diversas entradas sensoriais são integradas ao cérebro, provocando um aumento da atenção e da integração sensorial e tornando o praticante mais receptivo às estimulações propostas (Dismuke-Blakely, 1997).
Esse conjunto de estímulos que favorecem os sistemas responsáveis pela fala, também proporciona uma melhor adequação dos músculos da cavidade oral, pregas vocais, músculos da laringe e musculatura respiratória, além de proporcionar estabilidade tronco-postural resultando em uma função respiratória melhor, intensificando a voz, melhorando a qualidade vocal e uma articulação mais precisa dos sons da fala(Keske-Soares, 1997; Benjamin, 2002; Lermontov, 2003; Macedo, 2003).
A equoterapia possui uma influência significativa nos segmentos neurais ligados à linguagem compreensiva e expressiva. Em sessões de equoterapia com praticantes que apresentam distúrbios de linguagem, o movimento do cavalo estimula positivamente a integração sensorial, apoio postural, habilidades motoras e organizações corticais básicas, o que resulta em um acesso mais eficiente aos sistemas cognitivo-lingüístico do paciente. Dessa forma o fonoaudiólogo pode elaborar uma terapia global de estimulação da linguagem, já que na equoterapia, encontra muitas oportunidades e tarefas para uma comunicação funcional (Keske-Soares, 2005).
Paciente Roberto trabalhando com a “equoterapeuta Suzi".
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