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09/03/2024 19h19

INCOMODAR, TUMULTUAR, CRIAR CONFLITO, GANHAR ESPAÇO

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
 
A extrema direita bolsonarista quer fazer das eleições municipais deste ano uma  base sólida espalhada pelo país, através da qual ela possa não só influenciar ou determinar rumos nos municípios,  mas também consolidar um amplo espectro conservador nacional,  arraigado nos grandes centros e nos pequenos municípios.
 
Um espectro composto por um exército de milhões de militantes orgânicos,  fanatizados e resilientemente engajados, obstinados em combater a "ditadura comunista" do PT, do governo Lula, do STF, e movidos pelo desejo de recolocar a extrema direita de volta no poder central do país.
 
E, por mais que a grande maioria dessa gente toda seja composta de pessoas intelectualmente incapazes de formulações e ações elaboradas para atingir esse intuito, a fragilidade intelectual desta massa é suprida por um pequeno núcleo pensante elaborador,  que a alimenta diariamente via redes, e instiga a ação permanente e engajada deste povo todo.
 
Esse núcleo sabe exatamente onde quer chegar,  sabe os caminhos que precisa percorrer,  sabe como mobilizar a sua base, sabe o que precisa dizer e o que precisa disseminar.
 
Eles têm método.
 
E no centro esse método está a mentira e a desinformação,  e o trabalho convincente explorando e manejando os medos e imbecilidades pessoais e coletivas de uma porção alta da sociedade brasileira.
 
Seja no meio evangélico,  onde a ignorância e a deturpação pegam parelho.
 
Seja nos segmentos bolsonaristas que abarcam homens e mulheres brancas,  a partir de uma certa idade, e pertencentes a um determinado segmento de renda.
 
Seja no meio da polvadeira raivosa da turma que adora armas, ou no mundo pop-agrotóxico do agro.
 
Eles têm método, o método funciona, aglutina e faz agir.
 
No meio desse conjunto de ações pensadas está a ocupação de comissões importantes na Câmara dos Deputados.
 
Não foi à toa que o PL emplacou um moleque malandro e fundamentalista na presidência da Comissão de Educação da Câmara, e outra fundamentalista conservadora na Comissão de Constituição e Justiça.
 
Os objetivos são claros: incomodar, causar tumulto,  atravancar as pautas e projetos do governo Lula, e desviar o foco de debates e propostas importantes para o país, tentando pautar projetos e debates de temas esdrúxulos, irrelevantes ou insanos, que a extrema direita quer tornar temas vitais na sociedade brasileira.
 
Assim,  na Comissão de Educação, por exemplo, ao invés de debater grandes temas e propostas no avanço da qualidade e do alcance da Educação no país, veremos a tentativa de se pautar uma guerra cultural imbecilizante, focada nas supostas ideologia de gênero, banheiro unissex nas escolas, kit gay,  professores doutrinadores, e assim por diante.
 
Ou seja: a horda / bancada  bolsonarista vai querer impor sua pauta de fantasias e desviar do mundo real, e tentar vender isso como o mais relevante para a vida das pessoas . Simples assim.
 
No mundo metaverso bolsonarista, aumento de renda dos trabalhadores, diminuição de inflação, geração de empregos, crescimento econômico...são coisas menos importantes que combater a "ideologia de gênero",  e "a ameaça de destruição da família", por exemplo.
 
Coisa insana ? Sim.
 
Mas a régua que mede as pessoas normais não serve no metaverso bolsonarista, .... assim,  o insano dos normais é o vital dos anormais.
 
Quando a direita neoliberal precisou  arregimentar todas as forças políticas, para ganhar terreno e derrubar o PT, retirando Dilma do governo com um impeachment forjado, foi reto tirar das jaulas dos porões essa turma bárbara da extrema direita.
 
O problema foi que, depois de atingido o objetivo,  quem é que disse que essa gente toda iria querer voltar para o lugar de onde saíram.
 
Não só não voltaram,  como ocuparam todos o espaço político que a direita liberal perdeu.
 
E cá estamos, em 2024, num ambiente polarizado entre dois blocos monolíticos, quase imutáveis, sendo um deles movido essencialmente a ódio, mobilizando cegamente milhões em torno da manipulação do medo e da mentira.
 
Incomodar, tumultuar,  tentar tornar o imbecil,  o devaneio, o fundamentalista, coisas essenciais. 
 
E ganhar espaço. Mais espaço.
 
Para além apenas do ambiente político brasileiro,  é o conjunto da sociedade brasileira, na parcela que não se deixou tomar por esse sintoma doentio, que precisa dar conta de  colocar essa gente no seu devido lugar, para que a vida no país ganhe um patamar de normalidade, de civilidade e de consolidação da democracia como algo inegociável.
 
O ambiente de disputa saiu do ideológico embate entre PT e PSDB, e foi descambar para algo como PT e uma frente ampla jogando pela civilização, e a extrema direita da barbárie, do inculto e da insanidade.
 
E aí...o que é que a gente faz ?
 
Entre tantas tarefas, uma  primordial: impedir que a extrema direita ganhe terreno nos municípios país afora nas eleições municipais deste ano.
 
Tarefa dura, mas tem que ser feito.
 

 

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