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03/02/2024 17h34 - Atualizado em 03/02/2024 17h40
CADA UM ACREDITA NO QUE QUISER, mas cuidado prá não passar recibo de imbecil
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Paulo Schultz
Professor
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É fato que junto com a ascensão mundial da extrema direita, tivemos a consolidação de algo que se denomina "pós-verdade".
A pós-verdade , sinteticamente falando, acontece toda vez que alguém, ao argumentar, se expressar sobre algo, ignora os fatos concretos e objetivos sobre o tema, e coloca suas crenças pessoais, sejam de fundo emocional, religioso, ideológico, etc., acima dos dados e fatos comprovados.
Assim, se alguém não se vacina contra a covid porque acredita que será inoculado com um chip que vai alterar o seu DNA e irá transformar essa pessoa em "comunista", essa é a "sua verdade", que destoa dos fatos concretos ou comprovados cientificamente - quer dizer: a "sua verdade" é uma mentira, é uma pós-verdade.
Antes desta onda da " minha verdade pessoal" , o respeito à verdade factual estabelecia um patamar mínimo de intelectualidade a partir do qual as pessoas se expressavam sobre todos os temas, incluindo aí posições e manifestações políticas.
Com o tsunami da pós-verdade, a verdade dos fatos foi para o escambau - "a verdade é a minha opinião, a verdade é o que eu acredito,e não o que os fatos e dados concretos apontam".
A extrema direita mundial, e aqui também incluímos a extrema direita bolsonarista, soube captar e impulsionar com perspicácia essa tendência de pensamento pós-verdade de uma parcela significativa das pessoas, e as capturou transformando esse contingente enorme de gente em disseminadoras de mentiras envernizadas como se pós-verdades pessoais fossem.
Perfeito: ganhou uma massa humana coesa de milhões pra chamar de sua militância. Com ativismo diário, contínuo, principalmente nas redes sociais.
Como disse o estrategista e mentor da extrema direita mundial, Steve Bannon: "nós precisamos atolar as redes com as nossas merdas".....e assim transformá-las em verdades úteis politicamente (e socialmente).
Úteis e poderosas, porque levaram ao poder Trump, Bolsonaro e Milei - expoentes do neofascismo contemporâneo que a extrema direita representa.
Frases - chave viraram mantras ( espertamente, mentiras transformadas em pós-verdades absolutas) nas manifestações diárias em redes da militância engajada da extrema-direita brasileira :
"O PT quebrou o país", "Lula roubou", " o PT vai fechar igrejas", "A ideologia de gênero vai destruir as famílias", e muitos mantras mais.
O problema é que essa gente toda só sabe cuspir a frase-chave.
Se perguntar a eles o que Lula roubou, como o PT quebrou o país, quantas igrejas o PT fechou nos 13 anos de governo, e agora nesse primeiro ano do terceiro governo Lula, se for instigar que citem uma família conhecida, que foi destruída pela ideologia de gênero, ninguém vai ter resposta.
Definitivamente não vai ter resposta, porque não existe resposta.
Porque essas afirmações não se baseiam em fatos - se baseiam em crenças plantadas de forma certeira, com uma narrativa contínua que as transformou em pós-verdades ( ou verdade pessoais para cada um que nelas acredita e as dissemina).
Alguém já viu um kit gay distribuído em escola ?
Alguém já viu alguma escola adotando o banheiro unissex, em função da "ideologia de gênero" ?
Alguém já recebeu alguma cartilha de algum governo do PT que traga alguma afirmação irresponsável em relação a drogas ilícitas e temas polêmicos, como o aborto, por exemplo ?
Milhões de verdades pessoais se sobrepondo ao que é concreto e factual, por si só já é um imenso problema.
Milhões de verdades pessoais, todas elas idênticas, transformadas em ideia única, de maneira manipulada, tornam-se um perigo.
Porque aí reside a imbecilidade, a deturpação dos fatos, o predomínio das meias verdades ou das mentiras inteiras, e a consolidação de uma massa fanatizada, violenta e imbecilizada, que se movimenta mundialmente em função do ideário plantado de forma eficaz, contínua e em rede pela extrema direita.
Para aqueles que não vão pelo rumo de criar ligação militante e orgânica com a extrema direita, e que ficam só no replicar das informações em redes e grupos, o quadro é menos danoso.
Porém, há uma coisa que fica registrada, em conversas presenciais e em redes: o papel de imbecil que estão fazendo, e assinando recibo e postando orgulhosamente, prá todo mundo ver.
Cada um acredita no que quiser, mas daí a fazer papel de imbecil, sentir orgulho e tornar isso público, aí já é demais.
Pega a visão, criatura !
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