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16/11/2024 19h18
E QUE GOLAÇO !
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Paulo Schultz
Professor
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O projeto da Deputada do PSOL, Erika Hilton, de apresentar uma PEC propondo o fim da jornada de trabalho 6x1 é o golaço político de 2024.
Unificou a esquerda, com uma proposta raiz, de vanguarda, que bate de frente com a força do capital.
Coloca a esquerda no centro do ringue, propondo a luta e mostrando para a classe trabalhadora o que de fato lhe importa, e muito, por dizer respeito à vida de milhões de trabalhadores e trabalhadoras do país .
Se até agora havia um rescaldo analítico meio xoxo ou apocalíptico , por conta do resultado abaixo do esperado da esquerda nas eleições municipais, o projeto da parlamentar do PSOL veio como um tufão prá varrer essa poeira de pessimismo exagerado, reposicionar em seu devido lugar o identitarismo que anda se alastrando igual inço no chão das esquerdas, e colocar a esquerda no seu campo ofensivo devido - no enfrentamento principal ao modelo neoliberal vigente.
Em relação à extrema direita bolsonarista... o projeto conseguiu jogar toda essa turma no alambrado.
Pouquíssimos abriram a boca, e os que abriram, como o deputado Nicolas Ferreira, tomaram uma saraivada política nas redes.
A grande maioria ficou caladinha, até porque esse tipo de pauta não é a pauta dessa gente - a deles é a fabulosa "pauta de costumes", de natureza fecal, fundamentalista e delirante.
Falar sobre aquilo que realmente importa na vida das pessoas, como nesse caso, a carga de trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras - isso é uma coisa que essa gente não prioriza, não domina, e nem tem nada a propor (nada de bom para o trabalhador).
Nesse caso, vale o conselho do próprio Bolsonaro: que os parlamentares bolsonaristas fiquem quietos, para não cair em armadilha e serem socados politicamente ( melhor ficarem quietinhos no alambrado, do que entrarem em campo e tomar uma goleada, não é? ).
Mas a proposta da deputada foi além...
Pegou tão de cheio, tão certeiro, que obriga os sempre escamoteados e camuflados parlamentares do centrão a se posicionarem.
Quer dizer, os parlamentares da direita e do centro liberal, por conta da repercussão e da força da proposta, têm que sair da sua zona de conforto escamoteada, e mostrar de que lado estão - ou do lado dos trabalhadores, ou do lado do capital superexplorador.
Não é pouca coisa o que fez a proposta da deputada.
Mexeu geral em todos os campos políticos - esquerda, centro, direita e extrema direita.
Colocou nas ruas e redes uma bandeira de forte apelo positivo para os trabalhadores.
Abriu o caminho para manifestações públicas dos partidos,dos movimentos sociais e do movimento sindical, para mobilizar a favor da proposta.
Botou pavor na elite econômica do país.
E por ter conseguido o número de assinaturas mínimo para começar a tramitar, vai forçar um debate qualificado, de fundo, em que todos os atores políticos, e os segmentos de trabalhadores, e os patronais, estarão envolvidos - cada um tentando disputar o texto da proposta para o seu lado, obviamente.
Por óbvio que vai levar quem tiver mais acúmulo de força política neste tema, assim como também é óbvio que o texto original da proposta terá que ser negociado, para que se chegue a um acordo.
Mas o fato é que, até aqui, a proposta conseguiu uma mobilização e um engajamento promissores.
Se pela conjuntura política do país, e por seus recuos e contradições, a esquerda estava acuada.... agora tem um campo aberto para fazer política, pela via da esquerda, e avançar politicamente dentro da sociedade.
A deputada Érica driblou meio time, driblou o goleiro adversário, parou a bola em cima da linha, deu uma pirueta, e empurrou a bola para dentro da rede de calcanhar.
Chuteira de ouro.
É o golaço de 2024, e pode pedir música no Fantástico.
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