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12/08/2023 18h54

O QUANTO ?

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Existe no Brasil uma afirmação de senso comum, que é quase como uma lenda, de que os militares são nacionalistas, e os militares são éticos e honestos.  Parte substancial deles deve ser.
 
Mas há algo nestes aspectos no tempo certo de ser passado a limpo, nessa relação Forças Armadas - Governo Federal.
 
 
A despeito de tudo o que aconteceu durante o período de 1964 a 1985, na ditadura militar... e a despeito do que se apurou concretamente, em recentes anos, de irregularidades e ilicitudes cometidas dentro do âmbito das forças armadas, já fora do período militar... deixemos isso de lado, por ora.
 
Falemos,  de passagem,  sobre as inquietudes nervosas dentro das cúpulas militares durante o período do impeachment forjado de Dilma.
 
Recordemos também a pressão e ameaça velada, de membros da alta cúpula do exército para que o STF não concedesse habeas corpus para o presidente Lula, em 2018 , quando este estava  preso no prédio da Polícia Federal em Curitiba , e havia, juridicamente, a possibilidade de acontecer sua candidatura à época.
 
Lembram do famoso Twitter do General Villas Boas, às vésperas do julgamento deste pedido de habeas corpus no Supremo, alertando que este não ousasse conceder o direito a Lula ?
 
Feitos os registros, vamos focar no período do governo Bolsonaro.
 
Primeiro,  é preciso registrar que Bolsonaro alocou milhares de militares ocupando cargos políticos durante seu governo, em  quantidade maior do que os próprios governos militares o fizeram.
 
Membros do alto escalão das forças armadas, sobretudo do exército, foram colocados em postos-chave, em ministérios-chave.
 
General Heleno,  General Santa Cruz, General Pazuello,  General Raio que o Parta, Tenente daquilo, Coronel daquilo lá, e assim por diante.
 
Uma farra de cargos,  de acúmulo de rendimentos,  e, sobretudo,  um retorno empoderado ao executivo federal.
 
Lembremos que muitas das irregularidades levantadas ainda durante o governo de Bolsonaro aconteceram em ministérios ocupados por militares, como por exemplo, o general Pazuello, Ministro da Saúde no período da pandemia.
A despeito da má gestão e do desconhecimento completo do SUS,  lembremos aqui  do indício de que poderia ter  havido um esquema de propina de um dólar por vacina, por conta de um contrato de valor superestimado, que seria efetivado para a compra da vacina Covaxin,  o que acabou não acontecendo porque foi descoberto a tempo.
 
Um ministério capitaneado por um militar e tendo outros militares em postos-chave.
 
Nenhum desses militares sabia ou tinha envolvimento  nisso ?
 
Em relação ao 8 de janeiro,  e às semanas anteriores que precederam este dia... 
 
Há ou não há envolvimento de membros do alto escalão das forças armadas,  sobretudo do exército,  nesta movimentação de milhares de pessoas, acampadas em frente às unidades militares por todo o país , alimentando a ideia de que houvesse uma intervenção militar para impedir que Lula assumisse o cargo  de presidente ?
 
Explicitamente houve, no mínimo, complacência e boa vontade de comandos militares para com estes acampamentos todos em frente à unidades militares, pedindo ensandecidamente por um golpe.
 
Algo que é preciso apurar,  e caso comprovada a participação ou cumplicidade, é preciso punir exemplarmente.
 
Mais ... qual foi o posicionamento oficial das forças armadas em relação a toda movimentação do núcleo de poder no entorno de Bolsonaro, após sua derrota, onde havia um forte indício e que estes estavam alimentando sorrateiramente uma possibilidade de golpe ?
 
No caso que eclodiu publicamente esta semana, das jóias envolvendo o ajudante de ordens, o militar  Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro...todas as movimentações ilícitas que foram descobertas ,   tendo inclusive o envolvimento do pai deste, um general do exército , na venda de joias irregularmente recebidas,  e sua conversão em dinheiro vivo...qual é o grau de conhecimento de altos membros das forças armadas em relação a isso ?  Ninguém sabia ?
 
Não há uma manifestação oficial das forças armadas repudiando a participação de membros seus em ilícitos ocorridos durante o governo Bolsonaro.  Nenhuma palavra.
 
O silêncio significa conivência ?
 
Ou quem sabe significa que altos membros das forças armadas sabiam destas ilicitudes e não tomaram medidas legais, sobretudo com  militares envolvidos?
 
É preciso apurar a fundo até onde há participação ou conivência de militares em todos esses episódios de irregularidades e ilicitudes.
 
E é preciso que se estabeleça, de forma clara e definitiva  na sociedade brasileira, que militares têm uma função específica e constitucional de Estado, e que não devem nunca mais estar à frente do Executivo Federal, nem em postos-chave deste, salvo os que se relacionem com suas funções específicas.
 
É preciso estabelecer que as forças armadas se restrinjam à sua função constitucional,  e tão somente a isso.
 
Que o governo passado tenha sido a última vez na história republicana do país  que se promoveu esse entrelaçamento indevido,  esse empoderamento perigoso e nebuloso, de militares no governo federal.
 
Que se feche a conta... apure-se comportamentos ilícitos..puna-se legalmente os  militares envolvidos ... e que se coloque as forças armadas no seu quadrado constitucional. 
 
 Não são poder moderador. Não tem o poder de avalizar ou não governo algum. 
 
É isso. E passa a régua.
 
Ademais...fica a pergunta..O QUANTO membros das forças armadas estão implicados em ilicitudes cometidas no Governo Bolsonaro ?
 
 

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

É importante que se investigue tudo isso para que não aconteça, como em anos passados, de se jogar para baixo do tapete todas as atrocidades cometidas. Muito importante esse texto , pois nos relembra muitos episódios que carecem de ser esclarecidos.

Mara Rosana Rosa - 14/08/2023 21h37

Muito interessante sua análise Paulo. É extremamente importante que os militares voltem a fazerem seu trabalho e deixem a governabilidade para os civis.

Noemi de Araújo Bauer - 13/08/2023 09h06

Muito bom! Estamos distantes do que acontece na Seara militar, quase tudo meio secreto, assim como os quartéis: fechados com muros, cercas e representaçoes de armas e de poder, ninguém sai e ninguém entra sem autorização.O que acontece lá poucos sabem, mas muitos cumprem: "marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito vai preso no quartel"! O quanto isso tá valendo?

Neusete Machado Rigo - 13/08/2023 08h41

Perfeita análise. Não é de hoje que militares estão envolvidos em ilicitos. A experiência que tivemos serve de lição para que nunca mais retornamos a esse absurdo. Aliás qual o custo dos militares para o país? Vale a pena tanto dinheiro?

Flávio da Costa Girardon - 12/08/2023 21h20

Perfeita a análise. Que se apure tudo, e não se dê anistia a ninguém que tenha cometido algum ilícito, seja militar ou não. As ações não devem ser usadas como vingança, mas como justiça para que coisas semelhantes não voltem a ocorrer. Simples assim.

Marcos Oliveira - 12/08/2023 19h41

 

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