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16/07/2023 15h03

Sobre vigaristas, charlatões, relegados e manipuláveis

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Cerca de 30% dos brasileiros que dizem possuir alguma religião se definem como evangélicos.
 
Um aumento expressivo e constante nos últimos anos, ao mesmo tempo que o percentual de brasileiros católicos diminui, e também um percentual significativo e crescente de brasileiros têm afirmado não possuir religião alguma, sobretudo nas camadas mais jovens.
 
São dados estatísticos concretos da realidade brasileira.
 
A questão, dado esse quadro, é entender o que perpassa na mente desses milhões de brasileiros evangélicos.
 
O que pensam, o que anseiam, o que temem, quais são as ideias que fundamentam sua concepção de vida e sociedade.
 
O que fez, e tem feito, esta gente toda aderir às igrejas pentecostais e neopentecostais.
 
Em que aspecto a igreja católica, principalmente ela, falhou e tem falhado em acolher e compreender esta gente que se movimenta em números enormes para dentro do mundo evangélico.
 
No que o Estado ( compreendendo aqui os níveis federal, estadual e municipal )tem falhado ou se ausentado da vida da grande maioria deste povo evangélico, que fez com que essa gente tenha mergulhado de maneira visceral, procurando alento, nesse pantanoso terreno das igrejas evangélicas.
 
Em quais momentos ou períodos prolongados de tempo, essa gente toda foi relegada em sua cidadania, em sua dignidade, em seus anseios, a ponto de se atirar de maneira desesperada e frágil para dentro das igrejas evangélicas tendo suas mentes capturadas por um fundamentalismo arcaico, deturpador, charlatão e oportunista.
 
Certo é que se precisa compreender como isso aconteceu .. por quais fatores... como essa gente tem se movimentado... e como essa gente tem pensado e vivido.
Isso em relação aos milhões de fiéis evangélicos.
 
Há o outro lado desse mundo evangélico... a ser observado e dissecado com lupa : o lado dos pastores.
 
Especificamente o  pequeno conjunto de vigaristas, charlatões, pilantras, que se tornaram milionários ou até bilionários, construindo impérios com templos e suas filiais espalhadas pelo país, com redes de comunicação, ou outros empreendimentos - todos eles beneficiados por isenções de impostos de seus templos, e por uma completa vista grossa tributária e patrimonial, a despeito do enriquecimento galopante com forte cheiro ilegal.
 
Uma devassa da Polícia Federal e da Receita Federal nas movimentações financeiras destas igrejas, nas movimentações bancárias e patrimoniais destes pastores, certamente vai pegar a fina flor da vigarice, com cheiro de enxofre altamente monetário.
 
Voltando à questão dos fiéis..
 
É preciso entender e saber como dissolver o fundamentalismo deturpado que povoa corações e mentes dessa gente toda... o temor absurdo de que alguém ou algo promoverá a destruição da família, a concepção deturpada do que seja família "aceitável, segundo o evangelho pentecostal" .
 
É essencial a desconstrução do ideário individualista, impresso na teologia da prosperidade que lhes é impregnada, e que prega que nada do que é coletivo presta por ser coisa de comunista, e o que vale é a iniciativa individual, a prosperidade individual, através de uma ligação direta do indivíduo com Deus, através de uma deturpação cega da fé.
 
Não é um simples ranço que há entre o povo evangélico e a esquerda, entre o povo evangélico e o PT, entre o povo evangélico e o governo Lula.
 
Há neste entrave temores infundados, carimbados por mentiras e manipulações, e uma divergência de concepção de vida e de sociedade, semeadas nos templos evangélicos, de maneira a confrontar com tudo que seja de natureza de construção coletiva.
 
É uma reflexão profunda que precisa ser feita, seguida de ações que desbloqueiem esse campo.
 
 É preciso ouvir, é preciso diálogo.
 
E antes disso, é preciso que se rompa o temor de se ter o diálogo.
 
Aqui não é uma questão de movimentar a fé de ninguém - é uma questão de desconstruir deturpações fundamentalistas, de desconstruir manipulações de mentes e corações, de limpar o terreno apanhando charlatões, vigaristas e picaretas.
 
Que as pessoas possam exercer sua fé de maneira livre, e, mais que isso, que também tenham interlocução com a sociedade, com o coletivo, com respeito às diversidades as diferenças.
 
Necessário encarar essa deturpação, que captura milhões de brasileiros e os transforma em gente manipulável e refém emocional de um fundamentalismo insano e charlatão , que, além de tudo, tem um projeto ambicioso de poder, do qual essa gente toda faz parte, somente como massa de manobra, que gera lucros e votos.
 
Canais de diálogo. Ouvir e falar. 
 

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

É muito séria esta realidade. Importante análise Prof.Paulo. precisamos encontrar a forma de comoreemder e agir diante de situações tão delicadas...

Terezinha L Krolikowski - 16/07/2023 19h06

 

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