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domingo,28 de abril de 2024

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02/07/2023 10h29

E agora, José ?

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Bolsonaro foi tornado inelegível, como já era esperado.
 
Natural a inconformidade de muitos e a comemoração de outros tantos, dada a radicalização dura da polarização entre PT e o bolsonarismo.
 
Mas, para além das reações emotivas ou passionais, é preciso reflexão e visão apurada, para avaliar o quadro que se abre diante desse fato.
 
Primeiro, é preciso ter claro que Bolsonaro perdeu a sua condição de disputar eleições como candidato, mas não perdeu a possibilidade de trabalhar politica e eleitoralmente o bolsonarismo e seu ideário de extrema-direita, fazendo roteiros pelo país, e, em 2024, se colocando como principal cabo eleitoral puxador de votos para candidaturas do seu partido ou de outras candidaturas ligadas ao seu campo ideológico.
 
Portanto, não existe um bolsonarismo que, a partir de agora, irá funcionar sem Bolsonaro.
 
Existe, sim, um bolsonarismo que vai funcionar com Bolsonaro atuando em todas as suas possibilidades políticas, exceto ser ele candidato.
 
Se ele será capaz de exercer essa liderança, de aglutinar e promover uma continuidade forte do movimento criado a partir de sua figura, isso é algo que vamos saber ao longo dos próximos meses. (Não esqueçamos que Bolsonaro, sem a estrutura de um mandato, terá que trabalhar dobrado (e trabalhar é algo que Bolsonaro muito pouco fez na vida).
 
Certo é que, junto com o ideário da extrema direita bolsonarista, teremos daqui para frente uma narrativa de vitimização. 
 
Quer dizer: Bolsonaro, seus filhos, a bancada bolsonarista no Congresso, as lideranças bolsonaristas, a mídia bolsonarista, a sua fortíssima estrutura de comunicação nas redes sociais, todos - irão massificar a narrativa de que ele, Bolsonaro , foi vítima de uma injustiça, de perseguição, foi vítima do "sistema" que quis impedí-lo de continuar sua trajetória "redentora" do país.
Que essa narrativa vai colar dentro da base bolsonarista, me parece coisa certa.
 
Agora, se ela vai perdurar no tempo, e se vai conseguir servir de mola propulsora para fazer com que essa base se movimente para produzir resultados politicamente fortes, que se expressem também em vitórias consistentes nas eleições municipais do ano que vem, isso é algo a se ver no futuro próximo.
 
É preciso lembrar que em pesquisa recente do Datafolha, 25% dos brasileiros se definiu como bolsonarista - o que representa muita gente.
 
Necessário considerar as regiões do país e os estados do país que deram vitória expressiva para Bolsonaro na eleição presidencial do ano passado.
 
Em que pese que os números de aprovação do governo Lula vêm aumentando lenta e gradativamente à medida que o governo acontece, e as políticas públicas vão movimentando para melhor a vida das pessoas, sobretudo as de baixa ou baixíssima renda, temos que considerar esse público simpático ou aderente ao bolsonarismo.
 
Veja que, ainda agora, em julho de 2023, há um volume considerável de apoio explícito , expresso com adesivos nos carros e bandeiras do Brasil em suas residências.
 
A extrema direita se colocou como uma força política no país que veio para ficar. Se ela vai se manter desse tamanho, ou vai encolher, as conjunturas futuras dirão.
 
Porque temos duas outras forças a considerar.
 
Primeiro, a força do governo Lula.
 
Como mencionei acima, à medida que o governo Lula acontece, e as políticas públicas acontecem, parcelas significativas da população, não só a de baixa renda, lenta e gradativamente passam a aprovar o governo, Lula, o PT,e isso movimenta essa fatia da população nessa direção política, afastando-a do bolsonarismo, e crescendo a adesão ou simpatia à esquerda.
 
Segundo, a direita liberal / neoliberal.
 
Essa direita, representada pelo PSDB e outras forças, que saiu moída e triturada de 2018, e que até agora não conseguiu se refazer ( foi apequenada e espremida pela extrema direita que cresceu vertiginosamente) - essa direita tem, nesse momento, com a condição imposta a Bolsonaro, a oportunidade de tentar se reorganizar, construir uma "proposta vendável" para oferecer à população, tentar construir figuras com expressão nacional, e se apresentar como alternativa.
 
Essa direita tradicional, então , tende a disputar espaço político no país com a extrema direita, para ganhar novamente o terreno perdido.
 
Oportunidade ela tem, a partir de agora - se vai conseguir aproveitar, vai depender de muitos fatores.
 
Esse o quadro posto a partir desse momento.
 
Bolsonaro não está morto politicamente, ainda.
 
A extrema direita permanece, e só vamos saber se ela encolhe ou não logo ali adiante.
 
O PT e o conjunto das forças de esquerda tem um cenário aberto de possibilidade de crescimento e maior adesão / simpatia.
 
E a direita liberal/ neoliberal tem novamente uma oportunidade de tentar se refazer e disputar o espaço perdido.
 
E agora, José ?
 
As pedras se movimentam, as situações se moldam e a vida que segue.
 
Que as pessoas sejam sujeito, e não objeto.
 
Entender o agora, e o cenário montado, ajuda a perceber e compreender o futuro que vai se moldando dia após dia.
 
 
 
 

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Mais um tecto real e reflexivo. Precisamos mais do que nunca estar atentos ao futuro político do Brasil. Acredito que só os programas que o governo vem fazendo sejam suficientes. Se faz necessário um trabalho árduo de base principalmente junto aos agricultores e com o povo beneficiado pelos diversos programas governamentais.

Noemi de Araújo Bauer - 03/07/2023 13h54

Excelente texto. Muito coerente.

Mauro Souza - 03/07/2023 09h21

Só verdades,ele foi tornado inelegível, mas isso não quer dizer que está morto,a maldade ,a falta de amor e tudo o que há de ruim continua latente no meio do bolsonarismo

Helena - 02/07/2023 14h30

 

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