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11/06/2023 10h18
Até quando, Rio Grande ?
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Paulo Schultz
Professor
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De 1994 até aqui, o Rio Grande do Sul elegeu 8 governos estaduais.
Com exceção do governo de Olívio Dutra (1998) e do governo de Tarso Genro (2010), ambos do PT, todos os outros seis governos, incluindo o atual, são compostos pelo mesmo bloco político e ideológico.
MDB, PSDB, PP, e outros partidos adjacentes deste mesmo campo formam um abjeto "Centrão Gaúcho".
A linha de ação de todos os seis governos é absolutamente a mesma: vencer a eleição, assumir o governo, entrar para dentro da coisa pública para destruir a coisa pública, repassar estatais estratégicas para a iniciativa privada, esmigalhar o funcionalismo e minguar políticas públicas.
Um receituário neoliberal puro, iniciado em 1994 com Antônio Britto, e até hoje continuado com o atual governador, Eduardo Leite, que se reelegeu como quem recebeu um presente que ganhou sem merecer.
Acontece que a aplicação desse receituário de governo tem dado o mesmo efeito desde que ele começou a ser aplicado.
A dívida do Estado com a União chegou a valores indecentes e impagáveis, fruto de repactuações lesivas e subservientes que estes governos fizeram com quem era governo federal à época em que foram feitos.
O Rio Grande do Sul pagou bilhões, e a divida só cresce.
Há um processo de míngua contínua dos índices no setor industrial gaúcho.
O governo do Estado, por conta das privatizações de empresas chave, perdeu muito de sua capacidade estratégica de ser indutor do desenvolvimento.
Os governos do Centrão gaúcho torraram, e torram, patrimônio público sempre de maneira lesiva, colocando recursos no caixa do Estado para resolver financeiramente os seus governos, mas o que oferecem no lugar, na sequência desse desmonte, é o nada, ou o quase nada.
Programas compensatórios, com orçamentos que muitas vezes tem mais volume para publicidade do que para sua própria execução.
Os governos do Centrão gaúcho, para além do agenda de privatizações, da diminuição dos serviços públicos, tem praticamente nada a propor para a sociedade gaúcha.
É um vender pelo vender, torrar pelo torrar, diminuir pelo diminuir.
Entram na coisa pública com o intuito de cupins, para corroer a coisa pública, e, por tabela, beneficiar com gosto grandes corporações do mundo privado.
Possuem tamanha mediocridade de propósito, que, no lugar daquilo que vendem, que suprimem, oferecem o nada em troca.
Não há um passo posterior - há simplesmente o nada.
Receituário neoliberal puro - injusto e cruel para com aqueles que mais precisam da coisa pública, do amparo ou da indução do governo.
Somando-se a esses governos, temos também composições na Assembléia Legislativa, eleitas neste mesmo período, onde a maioria dos deputados são do Centrão Gaúcho, o que só aprofunda a mediocridade e a postura de entrega de patrimônio e a diminuição dos serviços públicos para a população.
Dezenas de deputados do baixo clero, cabeças de bagre, meros carimbadores dos projetos que vêm do Executivo. Formam uma base governista moldada na negociação de algumas dezenas de CCs no governo para seus "peixes", e na liberação de emendas e recursos para suas bases eleitorais - é um tal de kit asfalto, kit emendas, kit o raio que os parta.
Tudo se aprova. E segue o baile.
Bem, esse é o lado dos governos do Centrão gaúcho, e o lado dos deputados do Centrão gaúcho.
Na outra ponta, nós temos uma sociedade gaúcha que, majoritariamente tem eleito estes governos e estes deputados, neste período de décadas (com duas exceções acima citadas).
E aí precisa uma análise certeira e aprofundada, não só para compreender porque isso acontece, como para provocar uma mudança de visão, de postura, de atitude, que faça com que a sociedade gaúcha, majoritariamente, entenda, que esta forma de acontecer o governo do Estado não traz nada para o futuro do Rio Grande do Sul e da maioria da população do Estado.
É preciso que se entenda que ser anti-PT ou anti-esquerda, por si só, não vai trazer desenvolvimento econômico e social nenhum para o Rio Grande.
É preciso que se entenda que eleger deputados com esse perfil do Centrão pode até trazer benefícios imediatos durante o período eleitoral, e porventura alguma rebarba de melhoria depois , mas afora isso, muito pouco há de duradouro que possa vir de deputados com esse perfil.
Estamos recém no primeiro ano de mais um governo do Centrão gaúcho.
Até aqui percebemos um impeto obcecado em concluir a venda da Corsan.
Alguma coisa mais ?
Marketing e boa oratória temos.
O que mais ?
É preciso acompanhar as coisas, enxergar o que se passa na realidade do dia a dia da maioria do povo gaúcho.
E é preciso construir uma percepção de que esse caminho não é um bom caminho para a maioria.
Vital ir acompanhando o desenrolar do atual governo, e construindo uma noção de que, quando ele acabar, tem que ser substituído por outro projeto para o conjunto da sociedade gaúcha.
Tem que olhar para esses governos, para estas composições da Assembléia Legislativa, e pensar: "até quando - até quando eleger e empoderar quem muito pouco tem a oferecer de benéfico para o Estado, para a maioria ?"
É preciso olhar para as regiões social e economicamente deprimidas do Estado, e que não conseguem sair dessa condição há muito tempo.
É preciso olhar para setores da economia gaúcha que patinam ou que minguam, e que não conseguem obter o suporte e a indução que precisam de parte do setor público.
É preciso olhar para os serviços públicos prestados, e perceber que eles precisam ser melhorados e ampliados e não diminuídos.
Até quando, Rio Grande ?
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Comentários
Excelente texto.
Mauro Souza - 12/06/2023 10h59
Como sempre amigo e colega Paulo, teus textos são excelentes e nos levam a reflexões. Vou compartilhar com muitas pessoas que concordam conosco. Parabéns!
Noemi de Araújo Bauer - 11/06/2023 15h08
Muito cerra sua análise professor Paulo! Até quando o povo gaúcho vai persistir no erro de suas escolhas? A cada eleição se soma mais uma decepção... infelizmente.
Terezinha L Krolikowski - 11/06/2023 10h39