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01/04/2023 22h19

NA MIRA DO LIMITE DE PERMISSÃO

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
O mercado financeiro - banqueiros, rentistas, a turma da Faria Lima ( onde está o quartel general do capitalismo financeiro no Brasil) já deram o seu recado, através dos seus porta vozes Globo, Estadão, Folha de São Paulo, CNN, e outros.
 
" Lula, o PT e as demais forças da porção esquerda do governo que não se atrevam a ir além da linha que o mercado financeiro lhes permite ir ".
 
Se insistirem em ir além, avisa o mercado financeiro, que através do uso intensivo da mídia, fará uma campanha diária e letal para desmontar a popularidade do governo. 
 
Desmontando a popularidade do governo, torna-se fácil convencer o centrão de retirar seu apoio condicionado a ele, e torna-se fácil criar uma onda política de que será preciso, então, derrubar Lula por via de um impeachment forjado - tanto quanto foi o de Dilma, e tão forjado quanto foi a mentirada e patifaria judicial de Moro para condenar e prender Lula.
 
E então voltamos à velha roda que marca a história da república brasileira - quando as elites ( no caso específico de agora, a elite financeirizada e rentista) não se agradam de um governo, porque este resolve mexer nas estruturas de acumulação de riqueza, este governo entra em rota de conflito com ela, e é atacado com ferocidade para que seja derrubado.
 
Roteiro conhecido.
 
Tenho afirmado que o momento brasileiro não permite concertação social entre diferentes classes e segmentos - especialmente concertação com a elite financeira do país.
 
Acontece que o governo ainda não se firmou com força política suficiente para bancar um enfrentamento maior e mais profundo com a turma do capitalismo financeiro.
 
Por isso a proposta de arcabouço fiscal do governo, apresentada essa semana, é boa, porque avança socialmente, em relação à desgraça que era o financista teto de gastos.
 
 Porém, não avança o suficiente a ponto de estabelecer mudanças mais profundas no direcionamento dos recursos do Estado brasileiro, e alinhar um desenvolvimento econômico e social intenso, soberano, promotor de cidadania e que confronte forte o fluxo acumulador de fortunas do capitalismo financeiro.
 
Sempre é necessário lembrar que Lula venceu por uma margem muito apertada.
É necessário lembrar que foi necessária uma frente ampla que incluiu setores da direita liberal, tanto para vencer a eleição, quanto para compor o governo.
 
É necessário lembrar que o país ainda continua extremamente dividido e polarizado entre os que apoiam e sustentam o governo, e os que apoiam a extrema direita personificada na figura nefasta de Bolsonaro.
 
A sociedade brasileira ainda, em termos políticos, mantém esses dois enormes blocos monolíticos.
 
 Não houve, ainda, mudança de parcela da sociedade no sentido de se descolar da sedução das ideias e pautas da extrema direita, e vir em direção a um apoio ao governo.
 
Isso deve ( ou pode) vir a acontecer aos poucos, à medida que o governo for acontecendo, que as políticas públicas forem dando efeito benéfico na vida das pessoas.
 
Somente então, com apoio e sustentação popular maior, com um acúmulo de força política e social, é que o governo pode ir além - promover mudanças estruturais necessárias, não só para consolidar com consistência a democracia no país, mas também para fazer avançar a cidadania de forma tal, que aventuras bizarras e destrutivas como a que aconteceu nos últimos 4 anos não se repitam mais , e tampouco a desigualdade social continue imperando no país. 
 
O governo continua caminhando sobre o fio de uma navalha - o coração do governo é de esquerda, mas a composição com forças liberais é limitadora e requer movimentos cautelosos.
 
Caminhar sobre o fio de uma navalha, tendo, de um lado, parte significativa da direita liberal que representa os interesses do capitalismo financeiro e não quer mudanças fortes que interrompam seus ganhos, e do outro lado, a horda da extrema direita, ainda com sede de sangue, golpe e movida pela forte sedução das ideias ocas e insanas de deus, pátria, família e liberdade .
 
Este é o quadro.
 
Dentro dele, o governo tem conseguido acontecer, tem estabelecido a volta de políticas públicas importantíssimas, como o Bolsa Família melhorado, o Minha casa, minha vida, o PAA( Programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar).
 
Mas é preciso ir além, e o governo sabe disso.
 
Por isso o governo mira no horizonte a perspectiva de poder romper a linha de permissão que o mercado financeiro estabeleceu.
 
Ao passo que o mercado financeiro mira que o governo não ouse ultrapassar esta linha.
 
O passar dos dias, dos meses... irá dizer o que vai prevalecer nessa tensão.
 
Chupa que a cana é doce, mas é dura de morder.
 
 

 

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Comentários

Este é o triste cenârio que o governo Lula/Alkmin enfrenta. Só um apoio cada vez maior da sociedade poderá reverter. Mas só o fato de não vermos mais motociatas, jet skis pago com nosso dinheiro, asneiras ditas uma após a outra no cercadinho do planalto,é como diz aquela frase" não estamos no céu, mas fechamos a porta do inferno"

Laurecy - 02/04/2023 11h46

Dura realidade!

Beatir Henrich Uhlmann - 01/04/2023 23h21

 

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