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18/03/2023 21h09

PARA FAZER OMELETE, É PRECISO QUEBRAR O OVO

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
 
A concertação social, mediada por um governo, é a habilidade política de fazer acordos entre segmentos sociais diferentes, com visões ideológicas e objetivos divergentes, estabelecendo, de forma pactuada, que cada setor ceda um pouco em torno de um patamar comum, onde todos, razoavelmente, ganhem algo que contemple seus interesses.
 
Isso pode se dar em questões do mundo do trabalho, em um determinado ramo da economia, etc .
 
O primeiro e o segundo mandato de Lula foram marcados por vários episódios bem sucedidos de concertação social, provocados e mediados pelo governo.
 
Bom, de lá para cá o Brasil passou por várias fases, e várias turbulências.
 
Passou por um golpe travestido de impeachment forjado, que levou ao poder a direita neoliberal e instituiu um conjunto de mudanças para pior para a grande maioria dos brasileiros ( a "Ponte para o Futuro" do governo golpista de Michel Temer  ) 
 
Passou depois por uma experiência tenebrosa de 4 anos com um governo de extrema direita, que foi um misto horrendo de um anarcocapitalismo miliciano, ultraliberalismo econômico, fundamentalismo religioso picareta e  patriotismo oco, burro e imbecil, mas altamente sedutor.
 
Seguindo por esse fio da história recente, no ano passado, Lula venceu a eleição, numa disputa duríssima, que, pelo contexto, foi uma façanha épica.
 
Pois bem, chegamos então a 2023, o governo Lula se instala e começa a acontecer.
 
Dentro desse contexto criado de 2016 até aqui.
 
Um governo que reúne uma frente ampla, que é capitaneado pela esquerda, mas que tem dentro de si forças da direita liberal.
 
E do lado de fora do governo, em oposição, parcela majoritária da direita liberal querendo que não se mova uma palha do que foi construído em torno de seus interesses nos últimos anos, e mais um espectro medonho e enorme de uma extrema direita que se criou, se consolidou e está muito viva, não só no ambiente institucional, como por dentro da sociedade brasileira.
 
Esse é o cenário.
 
Pela natureza dele, programas como o Bolsa Família, o Minha casa, Minha vida, e outras políticas públicas de natureza mais imediata, se conseguem fazer acontecer com relativa tranquilidade política.
 
Porém, é preciso ir mais fundo nas mudanças - é preciso ir mais fundo na alteração de estruturas sociais e econômicas para que o país alcance um patamar de desenvolvimento mais justo para a maioria, mais soberano e mais sustentável.
 
Isso requer força política.
 
E isso requer contrariar interesses poderosos.
 
Nesse momento do país, não é possível estabelecer concertações com interesses tão divergentes.
 
E quando não é possível estabelecer concertações, é preciso fazer escolhas.
 
Governar com mudanças de fundo implica em fazer escolhas.
 
Papo reto...
 
É preciso fazer uma escolha entre agradar o rentismo e o mercado financeiro, ou colocar mais recursos públicos para promover mudanças sociais mais profundas.
 
É preciso fazer uma escolha entre agradar o rentismo, ou colocar mais orçamento para que o Estado seja indutor de um desenvolvimento que aconteça com viés produtivo, e que gere riqueza e empregos.
 
É preciso baixar as taxas de juros, é preciso comprar essa briga com o Banco Central(hoje nas mãos do capitalismo financeiro), é preciso comprar essa briga com o mercado financeiro, é preciso comprar essa briga contra os grandes tubarões do rentismo.
 
Não há concertação possível nesta disputa.
 
Então, é queda de braço mesmo. .. e disputa de força política ... 
 
De um lado o governo .... do outro lado o mercado financeiro, tocando o terror através da mídia que ele, mercado financeiro, banca pesado.
 
Tem mais...
 
É preciso modificar a política dos preços dos combustíveis.
 
A política vigente serve só para agradar acionistas minoritários da Petrobrás, que tem ganho dividendos bilionários , enquanto a população do país paga um preço altíssimo pelos combustíveis e gás.
 
É preciso que a União, sendo acionista majoritária da Petrobras, se faça valer, e que parte considerável do lucro da empresa sirva para alavancar o desenvolvimento social e econômico do próprio país.
 
Governar pela esquerda, montado numa frente ampla, e tendo este cenário, é tarefa para gente grande. 
 
Gente grande que saiba que esse período que a gente vive no país, não é um período propício para concertações.
 
Alguém vai ganhar, e alguém vai perder.
 
De 2016 para cá quem perdeu foi a imensa maioria do povo brasileiro.
 
E esse rumo precisa mudar.
 
Governar é fazer escolhas.
 
E às vezes são necessárias escolhas que provocam rupturas.
 
Quando a gente cozinha um ovo, prepara ele com todo o cuidado, para que a casca não se rompa, e nada extrapole.
 
Mas quando a gente quer fazer omelete, não tem jeito: tem que bater a casca, quebrar e fazer a transformação.
 
O momento do país não é para ovo cozido.
 
O país precisa é de omelete mesmo.
 
Por mais que isso provoque atrito, que se rompa a casca.
 
Há uma nação esperando.
 
A gente não quer só picanha.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Como sempre, preciso, claro e objetivo no que nós precisamos para o país.

Adalberto Paulo Klock - 20/03/2023 09h25

 

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