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25/11/2023 18h44

QUEM PARIU O BEBÊ DE ROSEMARY

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
No clássico filme de terror " O bebê de Rosemary ", um jovem casal se muda para um prédio com pessoas estranhas, e acontecimentos estranhos levam a jovem mulher, então grávida, a duvidar de sua própria sanidade. Após o parto do bebê e a descoberta de uma seita diabólica,  se revela a verdade dos fatos, daquilo que, supostamente, durante a trama do filme, se instava a crer: que a jovem estaria gestando o "filho das trevas".
 
Feito o registro do clássico filme e colocando em analogia com o momento mundial de hoje, faço a indagação: quem pariu a atual ascensão da extrema direita no mundo ?
 
Resposta única: o neoliberalismo. 
 
Depois de décadas sendo a teoria econômica dominante e o projeto político em vigor em quase todos os países do mundo, sempre a partir da lógica do favorecimento de grandes corporações capitalistas, o que o neoliberalismo conseguiu produzir, para a esmagadora maioria da população mundial, foi empobrecimento, desamparo, carência, miséria, desemprego e precarização.
 
As mudanças feitas na regulação do trabalho, a partir de mudanças nas legislações trabalhistas dos países, retirando direitos primordiais de proteção e amparo dos trabalhadores, e estabelecendo flexibilizações que só favoreceram o capital, levaram ao empobrecimento brutal, quando não à miséria.
 
Os trabalhadores, seja pelo desemprego, seja pela precarização dos trabalhos existentes, foram socados contra a parede, dentro da famosa lógica dita várias vezes por Bolsonaro: "ou emprego sem direitos, ou direitos e desemprego".
 
Mais: atomização dos trabalhadores, dentro deste formato de modelo econômico, na base do cada um por si, levou à perda de noção de classe.
 
É mais fácil vergar milhões e milhões de trabalhadores, se eles se sentem isolados e atomizados, se eles não conseguem perceber o coletivo, não conseguem se perceber como classe.
 
Foi isso que aconteceu nas últimas décadas.
 
E o resultado, além do empobrecimento, é o desalento, a falta de perspectiva e uma rotina massacrante que milhões de trabalhadores informais ou precarizados precisam cumprir, com cargas horárias individuais de trabalho absurdas, desumanas, para que consigam manter um nível mínimo de dignidade e de subsistência humana.
 
Na esteira disso, o capitalismo financeiro.
A última versão, a mais atual fase do capitalismo.
 
O capitalismo financeiro - o dinheiro feito a partir do dinheiro - não mais feito a partir da produção de bens ou mercadorias em escala industrial .
 
Um capital vagabundo, que se reproduz por si só, que não gera benefício social algum, nem produto algum, só lucro para quem o detém.
 
Isso, somado à questão tecnológica, e a outros fatores de natureza neoliberal, levou à destruição de setores produtivos inteiros de países pelo mundo afora, o que significou o desaparecimento de milhões de postos de trabalho.
 
Na esteira dessa complexidade devastadora, produzida pelo modelo neoliberal de gestão pública e privada, e que levou à ruína financeira e social a grande maioria da população do mundo, pariu-se o ambiente propício para a ascensão da extrema direita.
 
Então, ergueu-se aos gritos, primeiro nas redes sociais, e depois nas ruas, a bandeira do ódio.
 
Parcela significativa da população mundial foi induzida a desfocar dos seus reais problemas ....pobreza..salário insuficiente .. ausência de perspectiva... eliminação de direitos e de políticas públicas.... e colocar em fatores secundários (pauta de costumes) , ou inimigos imaginários (o comunismo), ou em minorias ( imigrantes, povos originários, negros, LGBTs , etc.) a culpa por suas ruínas pessoais.
 
Ou, colocar a culpa dos seus reais problemas não no modelo capitalista, e sim em minorias ou inimigos imaginários.
 
Aí emerge o patriotismo oco, violento, excludente e burro.
 
Emerge a religiosidade deturpada e seletiva...Deus para mim e os meus e ódio de morte para os que são diferentes.
 
E surgem as figuras expoentes dessa ascensão patológica - Trump, Bolsonaro, Milei., Kast, entre outros.
 
São elementos aglutinadores e imantadores da bandeira do ódio e de quem a empunha.
 
Um discurso sedutor, fácil, raso, e que reforça com consistência as ideias da extrema direita - uma narrativa contínua que convence e imanta, e cria um fascínio movido a ódio.
 
Sabemos: as elites sociais e econômicas dos países toleram, no limite, a extrema direita.
Se apavoram com a tosquice, ignorância,truculência, a deselegância mal cheirosa.
 
Mas, como existe uma intersecção, um ponto de encontro no que diz respeito à pauta econômica de liberais e extremistas ( privatização do Estado, corte de políticas públicas sociais, retirada de direitos, privilégio ao capital financeiro, etc) , essa elite fecha o olho e tapa o nariz para a extrema direita.
 
Afinal, dinheiro é dinheiro, mesmo com cheiro de sangue.
 
A ascensão mundial da extrema direita é filha direta do neoliberalismo.
 
A extrema direita é o bebê de Rosemary que o neoliberalismo pariu.
 
 

 

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