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16/07/2022 17h48 - Atualizado em 16/07/2022 17h57
Armados, instigados e cheios de ódio
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Paulo Schultz
Professor
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Desde 2019, quando Bolsonaro assumiu o governo federal, se abriu, em média, quase um clube de tiro por dia no Brasil.
Bolsonaro conseguiu driblar o Estatuto do Desarmamento com decretos e atos normativos, e hoje, existem mais de 600.000 pessoas com direito a porte de armas no país (os tais CACs).
Podendo ter mais de uma arma em seus nomes, e munição à vontade, temos um potencial violento de milhões de brasileiros armados e, em alta escala, instigados a agir violentamente, na defesa de sua concepção de sociedade, e do seu "mito".
Bolsonaro conseguiu vender bem a ideia de que as armas estão diretamente ligadas à liberdade individual.
Uma liberdade que, segundo ele, pode ser tirada pelo Estado.
Mais ainda, se esse Estado estiver sob controle dos "terríveis comunistas" da esquerda.
Bolsonaro tem uma concepção torta e bizarra de sociedade.
Já falei sobre isso anteriormente, quando abordei a visão anarcocapitalista de Bolsonaro - uma espécie de sociedade bárbara ao estilo Mad Max, onde a força de quem detém armas se impõe e estabelece as regras.
Ainda, sobre armamento, a região Sul do Brasil está armada até o talo.
Os três estados do Sul estão entre os cinco com maior taxa de clubes de tiro por milhão de habitantes no país.
O Rio Grande do Sul tem praticamente 21 clubes de tiro para cada milhão de habitantes.
Por certo que Bolsonaro que foi o canal por onde essa gente pode dar vazão à sua adoração por armas.
Na verdade essa adoração estava contida desde as regras rígidas criadas com o Estatuto do Desarmamento.
Bolsonaro só fez facilitar com que essa obsessão violenta saísse do armário, e tivesse hoje um status de orgulho, para quem possui armas.
Um instinto de violência, de proteção exacerbada ao seu patrimônio individual, uma auto- rotulagem de ser uma pessoa "de bem", contra aqueles a quem se considera inferiores, "os tais vagabundos" a quem Bolsonaro se refere.
Aliás, abro aqui um parêntese...
Bolsonaro trabalha uma média de horas por semana menor do que um estagiário - portanto, vagabundo é ele, que nunca gostou, e não gosta de trabalhar.
Para além desses aspectos há também um outro, de natureza mais profunda, especialmente focado na ala masculina dos adoradores de armas.
Seria o gosto pelo uso de armas, pelo porte de armas, pelo cano robusto das armas, uma espécie de sublimação homossexual ?
Quem sabe por trás de um machão armado não esteja alguém exprimindo sua vontade de sair do armário ?
Bem, deixemos isto para os psicanalistas de Bagé estudarem.
A questão principal é que essa gente toda armada, instigada e cheia de ódio, tem tudo para provocar um cenário em que estas eleições de 2022 sejam marcadas por violência, mortes e sangue.
Enfrentar essa gente toda, assim como enfrentar Bolsonaro e sua horda, vai exigir prudência, mas, sobretudo, vai exigir coragem.
É preciso resgatar o Brasil dessa onda extremada, violenta, assassina, discriminatória, produtora de miséria e pobreza, calcada numa concepção doente que se divide entre os que se consideram cidadãos "de bem" e a grande maioria marginalizada e subjugada.
Será áspero, será difícil, mas será necessário, e vamos vencer.
A esperança vai vencer o ódio.
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Comentários
Certeiro, como sempre, companheiro Paulo Schulz.
Esse tempo de trevas, ressuscitado pelo inquilino do Planalto, tem data p encerrar. Entretanto, a luta por dias melhores e dignos, hão de perdurar p muito tempo ainda.
O estrago que o verme deixou, é gde.
Mara - 18/07/2022 10h30
Acho preocupante isso, Paulo, uma legião de armados e mal amados, no rumo, no rastro sujo de sangue do "mito'.
Como conte-los, como vencer um povo tresloucado, enraivecido e armado? Nem sei se a palavra é coragem, teremos que ser a parcela que pacifica? Vai funcionar? Temo que haverá derramamento de sangue pela frente. Já há, já está acontecendo... Temo pelo caos...
Rose Bitencourt - 17/07/2022 22h41
Está aí o perigo de uma rebelião pois quem é que está se armando? São eles, defensores e adeptos da liberdade armada. Armas para defender a vida ou para matar? Insanos, e outros adjetivos negativos são capazes para o inimaginável.
Terezinha L Krolikowski - 17/07/2022 14h03
Certamente vamos vencer, mas não vai ser fácil.
Lúcia Bertoldo Cenedese - 16/07/2022 22h22