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30/04/2022 22h09 - Atualizado em 01/05/2022 05h07
Azeitonas indigestas
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Paulo Schultz
Professor
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Tem uma coisa que incomoda há muito tempo.
Estava adormecida por um longo período, mas voltou a incomodar em 2018, e tem tomado proporção desde que esta criatura transtornada e bizarra assumiu a presidência no início de 2019.
Estou falando aqui da crescente vontade de ingerência de parte das forças armadas na vida política do país.
Sobretudo vinda de figurões do exército.
Começou em 2018 com o famoso Tweet do General Villas Boas dando um recado em tom de ameaça ao STF, para que não ousasse conceder, no dia posterior, habeas corpus ao ex-presidente Lula.
E foi tomando corpo, proporção e volume a partir de 2019.
Hoje, convém situar, são milhares de cargos públicos políticos, no âmbito do governo federal, sendo ocupados por militares.
Muitos deles, pançudos e/ou inúteis, como o famoso general cúmplice de Bolsonaro na condução tenebrosa do enfrentamento à pandemia no país.
Outros, em posições chave do governo federal, dão guarida e suporte, e fazem coro aos devaneios ideológicos e demenciais do chefe.
Na ordem de pauta deles, no último e atual período, está o questionamento da segurança da votação por umas eletrônicas.
Pois, li e ouvi que as urnas eletrônicas e sua segurança em relação à possibilidade de fraudes precisam ser avalizadas pelas forças armadas.
Que as urnas eletrônicas e o sistema de votação e contagem precisam funcionar de uma maneira que não sejam questionadas por elas ( forças militares).
Pera aí...
Em que p... que pariu de lugar está escrito que as forças armadas são um poder moderador no Brasil ?
Em que lugar da constituição brasileira está escrito que militares precisam avalizar o sistema eleitoral brasileiro ?
A participação,a convite do TSE, de membros das forças armadas no processo de preparação do período eleitoral brasileiro para as eleições desse ano, é um movimento, sobretudo, de conciliação e de evitar confrontos institucionais desnecessários.
E só.
Agora,
no transtornado-mor dizer que o sistema eleitoral brasileiro precisa ser aceito e avalizado pelas forças armadas ?
Só na cabeça doente dele.
Outra coisa: segmentos militares se movimentarem para fazer coro na estratégia do chefe do executivo de confronto com o STF, corroborando o intuito do inominável chefe, que quer tumultuar um processo eleitoral onde ele tem uma derrota muito provável...
Ora... vão pintar meio fio com cal !
É preciso romper com essa sombra militar que paira sobre a República brasileira.
Quem tem funções militares, que não são funções de governo, e sim funções de estado,tem que se manter dentro do seu quadrado, de suas atribuições constitucionais.
E só.
Nada impede a manifestação livre e individual deles enquanto cidadãos, mas daí a se agrupar em correntes de pensamento, e se arvorar no direito de querer interferir na vida política do país, e dizer o que pode e o que não pode, e como pode, e dizer se irão aceitar ou não, determinada situação, e questionar resultados em caso de vitória nas urnas de alguém que não o seu desejo..sonha que a Pepsi paga.
Não existe poder algum, neste âmbito, previsto na constituição brasileira.
Muito menos uma força que tutele a vida política do país, a não ser o próprio sistema partidário e eleitoral brasileiro e seus regramentos e leis ( a serem observados e conduzidos pela própria justiça eleitoral ).
Fora isso, é querer se auto conceder um poder que não se tem.
Foi-se o tempo em que espirros verdes deveriam causar tremores e receios.
Esse é um tempo triste da história republicana do Brasil que deve ser lembrado e compreendido para que nunca mais aconteça.
De resto, cada um no seu quadrado.
Não há que se cogitar a sociedade e a democracia brasileiras terem que aceitar engolir azeitonas indigestas.
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Comentários
De fato, se não tem o fazer... "vão pintar meio fio com cal".
NEUSETE MACHADO RIGO - 01/05/2022 14h24
Bolsonaro deu vazão a esse povo inútil nos quartéis, que custam caro para o pais, então precisam espernearem pra dizerem q são importantes em alguma coisa, já q não têm ocupação nenhuma num país de paz. Então precisam criar ambiente de instabilidade q eles nesmo criam pra eles mesmo protegeram.
Nelson Dall Agnese - 01/05/2022 11h27