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31/12/2022 13h08 - Atualizado em 31/12/2022 13h21
Deu prá ti, baixo astral - a gente voltou a sorrir
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Paulo Schultz
Professor
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A gente sabe que vai ser difícil e trabalhosa a reconstrução do país.
A gente sabe, agora de forma mais metodologicamente detalhada, o tamanho da destruição feita, pela inédita existência de um não-governo de natureza anarcocapitalista, misturado com bizarrices imbecis e perigosas e fundamentalismo religioso insano.
A gente sabe que não vai ser tarefa curta nem fácil colocar de volta, nas suas respectivas catacumbas, uma horda de gente extremada, violenta e estúpida.
Mas apesar de saber tudo isso, a gente sabe, e mais do que saber, a gente sente, que esse período terrível de 4 anos chegou ao fim.
E apenas essa percepção de que esse tempo medonho terminou dá um alívio enorme.
Saem Damares, Mourões, generais Helenos, Pazzuelos, e discípulos de Olavo de Carvalho, e entram figuras como Marina Silva, Sônia Guajajara, Haddad, Flávio Dino , e outros nomes de enorme qualidade política e intelectual.
Desaparece aquele ambiente estimulador de um clima de conflito diário e ininterrupto, que permeou as relações institucionais, as relações com a mídia, e, sobretudo, as relações entre as pessoas, a ponto de estabelecer relações de ódio e violência em todas as camadas da sociedade brasileira.
Desaparece aquele clima de empoderamento de quem venera armas.
Esvanece o ímpeto daqueles que nunca tiveram respeito pela diferença, nem compreensão de pluralidade, nem capacidade de sentir solidariedade para com aqueles que sofrem com algum tipo de carência ou ausência.
É como se o tempo da brutalidade estivesse dando lugar ao tempo de uma nova primavera.
É o colorido que volta germinando por entre os escombros cinzas.
É a flor vermelha que
cresce e desabrocha entre as frestas das pedras frias.
É uma porta que se abre para que, novamente, milhões e milhões sintam dignidade e que tem direito à cidadania.
Esse dia primeiro e toda a sua movimentação estabelece um marco na história do país.
Se há a responsabilidade e a grandiosidade de uma tarefa de reconstrução, há também a leveza que vem da alegria esperançosa de milhões.
Como se milhões de alegrias e milhões de esperanças compusessem um ambiente que não pode ser visto, mas pode ser sentido.
Pode ser sentido num simples respirar ao ar livre.
E a gente sente isso de maneira tão intensa, e ao mesmo tempo serena, que mesmo com toda a complexidade, a gente tem uma certeza simples e segura de que um tempo novo está vindo.
E aí a gente pensa...."deu prá ti, baixo astral".
A gente quer viver, a gente quer mais, a gente pode.
Desatamos o nó.
A gente voltou a sorrir.
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Comentários
Exatamente o sentimento que tenho.
Adalberto Paulo Klock - 01/01/2023 10h56