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28/04/2021 20h06 - Atualizado em 28/04/2021 20h14

Sob o chão incandescente - afetos enrijecidos

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Há um sentimento de exaustão no ar.
 
Um período duro de crises, bizarrices, sandices, ignorâncias, animosidades e mortes.
 
Que se prolonga de forma demasiada.
 
E que provoca o bruto, o inerte e o risco explosivo.
 
No Brasil de 2021, esse é o quadro - denso.
 
O bruto se manifesta através do poder central e de suas hordas seguidoras.
 
Daí vem a bizarrice, a sandice, a ignorância, a pestilência.
 
O inerte vem das camadas altas do país,  e de parte considerável da camada mediana.
 
Inerte porque só pensa em si, no seu patrimonialismo,no seu egoísmo fechado em torno dos seus.
 
Despreza, por princípio, tudo e todos que não são do seu círculo de consideração.
 
São, por exemplo, os que fazem carreatas pedindo  volta à normalidade, desde que a normalidade aglomerada e sob risco seja para os outros...a plebe.
 
O risco explosivo vem do chão incandescente...
 
O que alimenta essa incandescência são as milhões de situações de ausências e carências.... de trabalho, de renda,de seguridade, de amparo, de alimentação insuficiente ou inexistente.
 
É  um conjunto de fatores  que vai tornando o chão fissurado.
 
E pelas fissuras é que se avoluma e se expande a crescente torrente de brasas no chão por onde pisamos.
 
Para o bruto e o inerte, sem problemas -  andam com os pés gelados.
 Sempre. 
As brasas não os afetam. 
São  ignoradas.
 
Mas para quem está na camada incandescente, a perspectiva é outra...
 
Começa nas necessidades de existência .
 
Mas há uma outra questão mais profunda - a dos afetos enrijecidos.
 
Uma questão humana que também afeta a porção que está fora da incandescência, mas que preserva a sensibilidade suficiente para sentir que seus afetos também estão engessados pelo todo adoecido.
 
É a porção que percebe, que sob o chão que pisamos, a  incandescência aumenta e vai abrasando.
 
Naquilo que é essencial fazer , cabe uma urgência - o que fazer com os afetos enrijecidos, como restaurá- los de forma que a invisível  linha que costura todas as relações entre as pessoas possa ser restabelecida.
 
Antes que o chão sob os nossos pés se incendeie,  que as fissuras se tornem insuportáveis, e antes que os afetos enrijecidos explodam. 
 
Talvez tão pior quanto o caos social, seja o caos afetivo.
 
O  enrijecido afeto explodindo de maneira violenta, querendo calor de maneira desordenada.
 
Melhor não pagar para ver.
 
O lado escuro dos afetos abandonados pode ser tão cruel quanto a situação e os responsáveis por quem os enrijeceu.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

São sempre boas e oportunas as suas reflexões. Parabéns!

Rosane - 29/04/2021 09h59

Admiro a forma lúcida que escreve,mas tenho uma tristeza tão grande,pq além de vivermos tempos difíceis em função da pandemia,temos ainda que conviver, com todas estas mazelas,deste bando de malucos que desgovernam nosso país

Helena - 28/04/2021 21h07

 

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