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15/02/2021 21h13 - Atualizado em 15/02/2021 21h24

Que tiro foi esse?

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Quase 180 mil novas armas de fogo foram registradas na Polícia Federal em 2020.
 
Resultado direto da facilitação legal promovida de forma obcecada por Bolsonaro.
 
Para além do evidente interesse dos fabricantes e vendedores de armas, a quem mais interessa a flexibilização da compra, do porte e uso de armas ?
 
Bolsonaro, é bem provável que não saiba, por nunca ter gostado de ler ou estudar( o que é nítido), tem uma concepção anarcocapitalista de sociedade.
 
Em uma forma primária, quase selvagem.
 
Uma concepção doente, onde as pessoas se movem livres, sem regras, e sem proteção ou intermediação do Estado.
 
Uma existência bárbara, onde os mais fortes subjugam os mais fracos, e estes, de acordo com a mentalidade doentia do ex-capitão, devem se adequar.
 
Quando, de forma insana, ele afirma que um povo armado não se deixa escravizar, ele parte do pressuposto de que  uma força externa e diabólica  supostamente poderia "escravizar as pessoas" sob determinadas regras,  e tirar a liberdade destas de se mover e existir de forma individualista e sem regras ou limites sociais. 
 
Bom,  esse é o  essencial do pensamento e da obsessão por armas do capitão Messias.
 
Mas, para além dele, quem se beneficia e quem tem essa obsessão quase que erótica por armas ?
 
Por óbvio que a facilitação de compra, porte e uso de armas enche de alegria as milícias.
E fortalece seu poder paralelo.
 
Mas... e quanto aos cidadãos aparentemente normais... (que são em número considerável, mas ainda bem que não majoritário no pais)..
 
Qual é o gosto... Qual a razão... O que se esconde por trás desse apoio e desejo por armas?
 
Seria a visão patrimonialista.... de defender suas posses de qualquer pessoa ou grupo de pessoas a quem se possa rotular de bandidos, delinquentes, etc ?
 
Seja a visão patrimonialista do ponto de vista urbano ou do ponto de vista rural.
 
É possível.
 
É possível que essa visão patrimonialista seja fator, assim como a visão de merecimento e mérito, de que alguns tem porque merecem, e outros não porque não merecem, e, portanto, devem ser afastados a bala das posses dos "cidadãos merecedores e de bem".
 
Mas há um outro grupo,  para além desse centrado no patrimonialismo.
 
O grupo dos obcecados em se exibir com armas.
 
Uma relação quase que erótica como o fato de se ter uma arma na cintura, com parte dela dentro da roupa.
 
Ou aquela cena típica de faroeste... do valentão com um rifle escorado no ombro.. como que ostentando o seu poder de definir o que é o bem e o mal.
 
Existe aí um perigo profundo... de que esse gosto,  esse prazer por armas e sua ostentação, estimulado pela facilitação e pelo incentivo, libere monstros internos de barbárie e de instinto letal.
 
E aí corremos o risco...
 de termos uma situação no país, onde os marcos de existência coletiva e de respeito humano, e convivência social regrada e civilizada, sejam rompidos de forma a criar uma situação caótica de extrema violência e desagregação.
 
O tema é complexo.
 
Mas as ponderações que levanto aqui devem ser consideradas, de forma séria.
 
Do contrário, vamos nos saturar de ouvir uma mesma pergunta:
 
"Que tiro foi esse ?"

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Muito perigoso armar uma população despreparada para o uso.

Rosane - 16/02/2021 16h34

Isso tudo é para fortalecer, as milicias, para um possivel golpe institucional em 2022!!

Eloir - 16/02/2021 08h17

Triste realidade, infelizmente a cultura do ódio só tende a crescer...temo pelo futuro dos nossos filhos...e os filhos dos nossos filhos ...

Juliane Maier - 15/02/2021 23h47

 

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