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10/09/2021 19h10 - Atualizado em 10/09/2021 19h35

Esperteza impressa, imbecilidade auditável

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Duas figuras coabitam ocupando a mente de Bolsonaro - o Bolsonaro ideológico e o Bolsonaro espertalhão.
 
O ideológico estabelece que o propósito do seu governo é implantar um modelo anarcocapitalista de sociedade.
 
Um modelo de sociedade semelhante ao vigente em Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, onde as regras são feitas e executadas pela milícia.
 
No Brasil da ideia bizarra de Bolsonaro, o Estado se retira de tudo, se exime de fazer mediação e proteção social, e passa a valer a liberdade da lei do mais forte - na base do poder econômico e do poder das armas.
 
Os mais fortes dominam, e os demais tem que "se adequar ou desaparecer" , como o próprio Bolsonaro diz.
 
Um faroeste capitalista, sem regras, sem proteção, onde os mais fracos ficam sujeitos à dominação das milícias,  à alienação mental executada pelas igrejas pentecostais, e à viver na precariedade e na carência.
 
 É lucro acima de tudo, e bala e alienação em cima de quase todos.
 
Esse é o Bolsonaro ideal.
 
A figura que deu origem ao carimbo de "mito", que seus imbecis e alucinados  seguidores lhe deram.
 
Mas para esse ideal vingar seria preciso conseguir o improvável - capacidade de governar e convencer a maioria da população do país que viver num faroeste capitalista seria o máximo desejável da liberdade individual e da pureza de espírito "de bem".
 
Uma coisa que não aconteceu, e não vai acontecer mais.
 
Deu ruim, né capitão !?
 
Esgotada, ou praticamente esgotada a possibilidade do ideal anarcocapitalista, emerge a outra figura que habita a mente de Bolsonaro - o prático e matreiro espertalhão.
 
O quadro é o seguinte: 
- Bolsonaro e seu governo não conseguiram criar uma hegemonia social e política para implementar o seu projeto.
 
Ao contrário, a incapacidade de governar, somada à não obtenção de hegemonia,  levou o país a uma crise econômica e social de larga escala, com um número de milhões entre desempregados, famintos, miseráveis e precários, preços inaceitáveis dos combustíveis e energia, custo alto de alimentação, e retração econômica.
 
Paralelo a este quadro, processos judiciais vieram encurralando os filhos do capitão ( a família vive bem, na base do caixa 2 das rachadinhas) , bem como ele próprio sabe os crimes que cometeu no exercício da presidência, os quais podem facilmente se configurar em processos e prisão, quando sua condição de foro privilegiado pelo cargo cessar.
 
E aí a rosca aperta.
 
E aí o Bolsonaro espertalhão prevalece, por matreirice e necessidade.
 
Porque não usar do expediente de criar um falso inimigo da liberdade das pessoas , o qual, além disso,  "impede" Bolsonaro de governar, para incitar os seus milhões de imbecis e alucinados seguidores contra ?
 
O "inimigo" STF - justamente onde repousa a possibilidade concreta de prisão do próprio Bolsonaro e dos seus filhos, todos com foro privilegiado.
 
A lógica de Bolsonaro é simples: eu quero encurralar o STF para que eu e meus filhos não corramos risco de prisão após condenação em processos, e para isso eu minto que eles são inimigos da liberdade das pessoas, faço uma narrativa diária virulenta, e os meus idiotas seguidores compram essa ideia e se sentem incitados a fazer o serviço que eu quero - encurralar o Supremo.
 
Mas o 7 de setembro não deu certo,  capitão.
 
Embora a horda ensandecida estivesse a fim, o que eles tinham de fúria corresponde ao que eles não têm de cérebro.
 
E se o líder da massa também não tem muito, as "forças ocultas ", rápidas e certeiras  dão contorno na situação difícil, em nome da "democracia", e fazem o  líder "mito" refluir, frustrando e murchando o ímpeto da horda.
 
O quadro ainda é incerto, por uma série de fatores.
 
Mas o fato é  que, neste momento, Bolsonaro, devidamente enquadrado, deixou sua esperteza impressa no tal manifesto à nação.
 
Já seus alucinados seguidores, por tudo que disseram e fizeram nas ruas, lugares e estradas do país esta semana, conseguiram deixar comprovada,de  forma explícita e inquestionável, sua imbecilidade e vocação para ser trouxa das artimanhas de Bolsonaro.
 
Uma imbecilidade auditável - basta consultar os registros de falas e imagens nas redes sociais e nos meios de comunicação.
 
Vida que segue.
 
Vida de gado para os adoradores do mito.
 
Vida dura para quem quer pôr fim a essa experiência terrível que o país vive.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Muita boa tua análise da conjuntura! Mas por muito, muito menos tiraram a Dilma. Nem se compara, inclusive! Isso significa que por trás desse alucinado, tem o Temer e trocentos comandando a bagaça!

Mara Rosana Rosa - 12/09/2021 14h49

Este texto mostra exatamente o que estamos vivendo e retrata quem é o Bolsonaro. Passo compartilhar?

Noemi de Araújo Bauer - 12/09/2021 09h13

Que tempos! É verdade que não há mal que sempre dure, mas as consequências do mal podem perdurar e até se perpetuar, infelizmente. Não estou falando do Bozo se perpetuar, mas sim de que suas políticas destruidoras do país podem permanecer por longo ou até infinito tempo. Essas escolhas feitas na apoteose da ignorância de grande parte dos brasileiros, custa e custará muito ao Brasil.

Adalberto Paulo Klock - 11/09/2021 11h44

O Brasil não é uma Ilha. A maior parte do PIB brasileiro advém das exportações, de minério, grãos e carne. Esse é o campo do jogo político e econômico. Qualquer golpe na democracia teria um impacto muito grande nas relações exteriores, principalmente do ponto de vista econômico. A implicação de uma deterioração ainda maior da economia significa reduzir drasticamente a arrecadação fiscal e por sua vez o comprometimento da máquina pública. Essa relação não serve pra ninguém. Imaginem, então, para aqueles que se refestelam com o dinheiro público, que possuem polpudos vencimentos, que tem aposentadorias gordas, que comem de salmão a leite condensado perdendo essa mamata. Acha que vão querer brigar com alguém? Por isso, acho que alguém teve sensatez em algum momento, pegou a bola e disse: "Quer continuar jogando, respeite as regras". Embora isso nos dá algum alento, conhecemos o tipo de jogo a que estão acostumados. Não fica apenas dentro das 4 linhas. A intimidação faz parte da estratégia para enfraquecer o adversário. E se ainda assim, estando sujeitos a perder o jogo, sem dúvida, vão apelar para o tapetão.

Paulo Schmidt - 11/09/2021 11h11

O muito triste,ver nosso País passar tanta vergonha diante do mundo,sendo administrado por um bando de mau caráter.

Helena - 10/09/2021 20h50

 

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