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01/12/2020 20h44 - Atualizado em 01/12/2020 20h51

Papo reto...com espinhos

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
Fechadas as eleições de 2020, não quero me ater ao balanço do que já é conhecido.
 
Que o bolsonarismo se esfarinhou e voltou ao seu tamanho de gueto.
 
Que o centrão e a velha direita saíram vitoriosos.
 
Que a esquerda teve algumas retrações, mas se mostrou numérica e qualitativamente forte e resiliente, com o germinar e a consolidação de novos quadros e lideranças, tendo sido eles vitoriosos ou não em suas disputas.
 
Isso está posto.
 
Meu olhar está no fato de que uma das leituras do resultado deste processo eleitoral, para o conjunto da esquerda brasileira, é que o germinar e a consolidação de novos quadros e lideranças, e seus respectivos espaços políticos, estão alicerçados em algo bem claro: um discurso e uma narrativa consistentes, com conteúdo, focados na esperança, na dignidade e na cidadania, e no deixar de lado o discurso da concertação social.
 
Venceu, dentro da esquerda, quem foi claro incisivo, e não temeroso.
 
Venceu quem soube dizer, sem medo, que há sim uma disputa de classes, em cada município, e no país como um todo.
 
Venceu quem soube dizer com firmeza que o fosso social, que as diferenças sociais, que a ausência de cidadania, e a carência de milhões não se resolvem com concertação paliativa.
 
Venceu quem foi visceral ao tocar em problemas e suas responsabilidades, sem medo de ferir setores de cima da sociedade, nem de melindrar fundamentalistas.
 
Venceu  quem soube captar que o mundo do trabalho mudou após a reforma trabalhista feita no governo Temer, e  que o discurso para os milhões de trabalhadores desse novo e vampiresco mundo do trabalho, é o discurso que eles existem, são cidadãos, e devem ter suas profissões colocadas dentro de um enquadramento de proteção social e amparo legal humano.
 
Venceu, na esquerda,  quem soube captar e dizer que o povo da periferia não deve ficar embretado entre as milícias e a vigarice ordinária do fundamentalismo religioso.
 
Venceu,na esquerda, quem soube aliar um sentimento de esperança à uma fala vigorosa.
 
Quem soube dizer que é preciso ousadia e coragem, e que,se for preciso, se deve enfrentar setores da sociedade, em nome da defesa da maioria, daqueles que são relegados ou normalmente tratados com migalhas.
 
Venceu quem disse que é necessário inverter prioridades, e que o crescimento econômico deve ser desconcentrado e possibilitado a todos os setores.
 
Por fim, venceu, pela esquerda, sendo vitorioso ou não na eleição em si, quem foi genuinamente esquerda.
 
Semeando esperança, coragem e ousadia, e afirmando que  é possível,  e que essa possibilidade requer a verdade e algum enfrentamento, sem passar pano prá ninguém.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Uma leitura genuína dessas eleições,Paulo. És um excelente comentarista político! Daqui pra frente é nos concentrarmos nas novas figuras de esquerda, nos novos protagonistas do que temos pela frente. Sem duvida, um quadro mais otimista!

Rose Bittencourt - 01/12/2020 22h22

Sim Paulinho,são só verdades,até perdemos a eleição mas não podemos perder a garra,a determinação a coragem de lutar por mudanças e pelos que mais precisam

Helena - 01/12/2020 21h58

Show ????????

Jacqueline Aly - 01/12/2020 21h43

 

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