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24/08/2019 19h18 - Atualizado em 24/08/2019 19h22
O tribunal dos interesses sórdidos
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Paulo Schultz
Professor
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Coube a Glenn Greenwald, jornalista americano do The Intercept, radicado no Brasil, ter ousado o que nenhum brasileiro teve coragem, ou se tinha coragem, não tinha condição objetiva de fazer:
Revelar, através de vazamentos de mensagens trocadas entre os membros da lava jato, e publicizadas agora, que ela nunca foi um foro de combate à corrupção, mas sim um braço político da extrema-direita dentro do judiciário.
Uma força com um projeto de poder e de país, que agia articulada com a grande mídia brasileira, fazendo o convencimento e o direcionamento da sociedade à conveniência do seu projeto, e promovendo a criminalização midiática, arbitrária e forjada das forças oponentes a este - sendo foco principal o PT e Lula.
Particularmente, sempre afirmei a natureza cínica e dissimulada do juiz Moro, até então super herói da classe média e da elite.
Com as revelações do Intercept, agreguei outra conclusão: trata-se de pessoa de caráter turvo.
Quanto ao outro bad boy, Dallagnol, sempre me pareceu um mimado de classe média/alta que, após passar em concurso público, e ser guindado a um posto de relevância por ocasião da força tarefa, deixou a fama do espetáculo inflar seu ego, ate o limite da inconsequência.
Menciono aqui os dois pop stars da operação, realçados pela mídia como os limpadores da corrupção no país.
Mas, friso que a questão de fundo é a operação em si, e sua finalidade subterrânea, gradativamente sendo revelada.
Entre outros prejuízos, a Lava jato foi responsável pela ruína das grandes empreiteiras do país, e com essa ruína, centenas de milhares de empregos se perderam.
Poderia ter agido diferente, promovendo o afastamento das direções, para apuração das irregularidades, colocando gestores temporários nas mesmas durante as investigações, e mantendo as empresas em operação, para manter os empregos e este ramo da economia ativado, mas, agora sabe-se, não era esse o objetivo da força tarefa.
Este setor de engenharia e construção do Brasil, que era reconhecido e competitivo no cenário internacional, e um dos que mais absorviam mão de obra, foi dizimado.
Somente nas maiores empreiteiras do país, mais de 350 mil empregos diretos foram eliminados, e um número maior ainda de empregos indiretos foram extintos.
Poderia a operação manter intacta a empresa Petrobras, que tinha crescimento constante antes da lava jato ( segundo o jornal Valor Econômico, em 2013, antes da lava jato, o patrimônio líquido da Petrobras era de R$ 350 bilhões - passados quatro anos da operação, o patrimônio líquido da petrolífera brasileira era de R$ 269,6 bilhões - R$ 80,4 bilhões a menos, portanto.
Qual era o objetivo mesmo? Limpar a empresa da corrupção?
Ou o objetivo de fundo era fragilizar a empresa, em função dos interesses de multinacionais petrolíferas no pré-sal brasileiro?
As revelações do Intercept, em parceria com outros órgãos da mídia nacional, escancararam uma trama minuciosamente arquitetada.
Usando o bom e velho papo reto:
A lava jato é, estritamente, uma combinação de grandes interesses econômicos, projetos pessoais de poder e fama de alguns entes públicos, ilegalidades jurídicas, arranjos e movimentos sigilosos imorais, perseguição e punição de quem (Lula e o PT) possa ser obstáculo a este projeto de país que rifa a soberania e as riquezas do país, e explora e empobrece a imensa maioria dos brasileiros.
Todo este lodo subterrâneo emergiu.
Os heróis da operação derreteram.
E a própria operação foi acuada, pelas revelações das ilegalidades cometidas.
Porém, a operação é maior que as figuras de Moro e Dallagnol, e envolve interesses fortes e de cifras imensas.
Jogará brutamente com outras peças para se manter viva,e sair da defensiva.
Conta ainda com a parceria poderosa da mídia, sobretudo a Rede Globo.
Quem se instalou no poder e no entorno dele, depois do golpe de 2016, quer manter a lava jato ativa porque ela é a garantia de se ter um tribunal de exceção pronto para ser usado a qualquer momento em que for conveniente colocar o PT, a esquerda, ou outras forças sociais na defensiva, ou em descrédito perante a população, para que não tenha força para impor resistência ou ofensividade contra a devastação econômica e social em curso no Brasil.
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Comentários
Parabéns pelo conteúdo. Valeu.
Orlando Desconsi - 24/08/2019 22h02