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07/11/2019 05h34 - Atualizado em 07/11/2019 05h47
Com extrema frieza
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Paulo Schultz
Professor
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A primeira fase do que se definiria como um projeto neoliberal de país foi implementada no Brasil de 1995 até 2002, com Fernando Henrique e seu PSDB, auxiliado por outros partidos coadjuvantes deste campo político da direita liberal.
Naquela onda, todas as privatizações e programas de diminuição do Estado eram justificados como sendo necessários para que se focasse os investimentos públicos em educação, saúde e segurança - o tripé básico que sustentava a narrativa das ações da direita liberal no país.
Foi assim no governo federal, e foi assim sim em vários governos estaduais do PSDB, e do MDB (lembremos da feroz liquidação e diminuição do Estado durante o governo Britto no Rio Grande do Sul de 1995 a 1998).
Para a população afetada por estas políticas, as privatizações e reduções da inserção do poder público sempre resultaram em duas coisas: no encarecimento dos serviços que, antes prestados pelo setor público, foram privatizados, e o principal: o tal volume de recursos captado com essas privatizações nunca aparecia em forma de melhora nas áreas da educação, da saúde, nem da segurança, como era a promessa.
Ou seja: se encolhia o patrimônio público, o estado deixava de prestar serviços, e o volume de recursos dessas privatizações se perdia dentro do orçamento sem que as populações sentissem melhora nos serviços básicos do tripé prometido pelos liberais tucanos e aliados.
O tempo da primeira onda neoliberal passou, instaurou-se um governo de outra natureza com o PT e demais forças de esquerda, que governaram o país durante 13 anos.
Nesse período, o PSDB, partido central do liberalismo nacional, foi minguando consideravelmente, o que culminou com um desastre na eleição presidencial do ano passado.
Restaram aos tucanos alguns governos estaduais.
Com estes atuais governos estaduais do PSDB, e outros de partidos do mesmo campo político, vem a segunda onda do projeto neoliberal.
Com uma radicalização maior, porém.
Agora se quer encolher o tamanho do Estado, sem usar o biombo enganador da narrativa de focar em educação, saúde e segurança.
É a radicalização do neoliberalismo, ou um ultraliberalismo.
Aqui se fala na simples eliminação quase que completa do setor público.
Não há mais maquiagem: não mais se fala em privatizar porque empresas são deficitárias, ou para investir em educação saúde e segurança.
Se fala em encolhimento de estado por uma questão fiscal, e principalmente, por uma profunda convicção ideológica, de que tudo deve ser regulado e executado pelo mercado, pelo mundo privado.
É a interligação ideológica de tucanos e adjacentes com o libertarianismo do partido Novo, do instituto Millenium, do Instituto Mises, e outros do gênero, e com a política econômica ultraliberal do ministro da fazenda de Bolsonaro, Paulo Guedes.
A pergunta que eles não respondem é: o que pretendem fazer com uma enorme massa de milhões de pessoas que, fora do serviço público, não terá condições objetivas próprias de assegurar esses requisitos essenciais da cidadania por não conseguirem acessar o mundo privado.
Pessoas que não tem, e não terão, acesso ao básico pela via do mercado.
A elas restará o limbo, a ausência, a falta, a necessidade.
Para estes milhões de brasileiros alijados, quem quer este projeto de sociedade não tem uma única palavra que contemple como viver tendo quesitos básicos essenciais não atendidos.
Veja o que são as propostas do governador Eduardo Leite, do PSDB, para o Estado do Rio Grande do Sul.
Privatizar empresas públicas essenciais e rentáveis, como Corsan, Banrisul, Sulgás, CEEE, estritamente por uma questão ideológica de que o mercado e não mais o estado é que deve prover serviços para quem os puder acessar e pagar.
Há, no primeiro plano, uma fala de equilíbrio fiscal, e no plano mais de fundo, a concepção de ausência parcial ou total do Estado.
É a fase da barbarie do capitalismo aplicada como agenda de governo do país e de vários estados, e impostos cruelmente à vida de milhões.
Trata-se de eleger o mundo privado, o mercado como finalidade principal e relegar o ser humano a um valor menor.
Sem rodeios. Com frieza.
Me mostre nas tuas ações para quem tu governa, e eu afirmarei com firmeza quem tu és.
Foto: Internet
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