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11/07/2011 19h59

Babilônia – uma máquina de escrever no jardim

Sávio Hermes Sávio Hermes
Advogado e Escritor.

O processo da escrita está cada dia mais complexo. Tendo substituído o lápis pelo teclado, deixamos de escrever. Passamos então a digitar. Juntamos as letras em uma calculadora e encontramos uma frase. Mas será que realmente é minha? Milhões de dedos em teclados frenéticos para informar o mundo.
Assumindo responsabilidades perante crimes não cometidos. Tentando impor a dor do tempo, de forma a que realmente seja dor, sentimento e linhas de inspiração. Condição que faz com que pensemos em ser esperançosos e transmitir algumas vibrações positivas. Mas os choques de realidade, por vezes nos exigem um esforço e uma energia que nos consome.
Dia desses me chamou a atenção, a citação que foi feita, referindo que na porta do inferno está escrito - aqui acaba a esperança. Isto me motivou de certa forma, pensei que a próxima coisa a ser escrita seria chutando o balde do pessimismo, do baixo astral, da fluoxetina, da derrota em casa, afinal, algo auto-ajuda motivador.
Acontece que a digitação está cada vez mais sangrenta. Fiz uma pausa. Na há nada a digitar da Linha Salto. Nada que digitar da tragédia de Realengo. Ausência de substantivos para referir-se a alguém que deixa um recém-nascido num papa-entulho. A poética morte, com um tiro no peito, outro na cabeça e o corpo lançado ao mar. São imagens muito impactantes. Festeja-se a morte publicitária. De outro lado, sente-se a morte, como parte que não mais estará presente.
São barbaridades que ninguém resolve. Terremotos que ninguém prevê. Coincidências que a tela virtual não transparece. A mistura de todos os sentimentos vira uma simples fórmula do amor, que não é mais amor, é franja, calça e tênis, algo pendurado no ouvido e uma indiferença com a natureza morta.
Existe vida na tela do computador? Esta arbitrariedade amparada na simples vivência pessoal, como marca, já que fumar é proibido, transforma tudo em algo vendável, consumível e se puder, ainda, reciclável. O que não deixa de ser conveniente, só que complexo de reproduzir.
O importante é que emoções eu vivi. Gasto menos papel, vou perdendo lentamente os gestos da escrita, abstraindo tanto os traços, que vira algo infantil. E o desafio quem sabe seja não digitar; deixar espaços em branco; horas vagas; impressões apagadas; trocar as cordas do violão, nadar no rio Uruguai.

 

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